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In a career spanning over 30 years of experience in journalism, TV production, film and TV scripts, Wladimir Weltman has worked for some of the most important companies in the industry in the USA and Brazil. Numa carreira que se estende por mais de 30 anos de experiência em jornalismo, produção de tevê, roteiros de cinema e TV, e presença frente às câmeras Wladimir Weltman trabalhou em algumas das mais importantes empresas do ramo nos EUA e no Brasil.

domingo, 6 de janeiro de 2019

SHTISEL -Yiddish Food for Thought


SHTISEL 1 by Wladimir Weltman

I don't know who said that writing faithfully about our own microcosm allows us to touch the heart of the whole world. I think this is true because we are all essentially equal as human beings...

I have almost finished seeing the Israeli TV series SHTISEL, which tells the saga of this family of Haredim, ultra-Orthodox Jews living in the old neighborhoods of Mea Shearim and Geula in Jerusalem.

Shulem Shtisel is the family’s patriarch. According to the neighborhood matchmaker Shulem is an "inveterate smoker and glutton", but Shulem prefers to be seen as a "father and educator". He's all those things... Despite being a father who deeply loves his children, he believes that educating them is the most important thing to do in his life. It is a pity that his lessons are the fruit of a logic built upon ancient tradition and old customs. The heart, unfortunately, is always left aside, perhaps overwhelmed by cholesterol and smoke, which he consumes in quantities...

The other series’ protagonist is Akiva, the youngest son of Shulem. Sensitive, he still suffers from the loss of his mother and is divided between following the father's footsteps – marrying a girl chosen by the matchmaker and his father; becoming another teacher at the school where the father is also a teacher. Or follow his heart, marrying the woman he loves and becoming the painter he was born to be.

In the plot there are other exquisite characters, such as Giti, Akiva’s sister, a heroine of iron will; Tzi-Arie, the brother who wanted to be a singer but became a Talmud scholar; Malka, the clan’s grandmother who enjoys American soap operas on TV. A rich, human, interesting universe, where we gladly immerse ourselves watching the Israeli series.

I can't stop watching it and thinking about it.

The construction of the characters and their universe is delicate and endearing. And the essential plot, which encompasses all the characters reminds me of a visit I made to Israel in 1973.

Among other places I visited the city of Nablus (Shechen) in the West Bank, to meet a fossil group of people: the Samaritans. Yes, I mean exactly to the people of that New Testament character, the Good Samaritan, who helped a traveler in the Gospel.

The Samaritans could be Hebrews of the tribes of Ephraim and Menashe that were not taken in captivity to the exile in Babylon. When the other Jews returned from exile, there was a misunderstanding between the two groups. Their traditions had become differentiated and they went separate paths...

Centuries have passed, and the Samaritans remained faithful to their traditions living around Mount Grizin, alongside Nablus. Unfortunately, in those 2000 years they only married within the community. When we visited them in the 70s, they were dying -- the children began to be born with all sorts of terrible congenital diseases.

But what does this have to do with the SHTISEL TV series?

Among the many things the series has made me think about, was that this group of Orthodox Jews of the series have a lot in common with the Samaritans of Nablus. They live in these neighborhoods of Jerusalem, isolated, in a glass dome, with customs and practices frozen in a remote past. Although ancient, this way of life it is not necessarily biblical. It’s something that the Haredim brought from Europe. If Moses would descend from heaven to visit them today, he would not understand why they wear black long jackets and those funny furry hats, a fashion typical of eastern Europe of the nineteenth century. Moses would never have crossed the desert for 40 years wearing these clothes...

The fact is that today, in 2019, the Haredim still live like this. Mea Shearim, still is a Jewish ghetto inside the Jewish state. They do not serve the Israeli army, and many of them sincerely do not accept the creation of the State of Israel itself. For them Israel will only be possible with the coming of the Messiah.

Everything in their world revolves around the tradition and reading of Jewish law in its most archaic form. And despite the profound and affective family ties, they sacrifice everyone to avoid bursting this retrogressive bubble in which they live isolated from the world and that imprisons them in an ancestral past.

Criticizing them is easy, but how much we ourselves do not create our social isolation bubbles, in which we accommodate and protect ourselves from our deepest desires and dreams?

How much do we not imitate the Jews and the Samaritans in their millennial ruses, to divide us in extreme positions, through the Internet and other forums, pointing fingers and accusing each other, owners of a truth whose validity seems to have a divine seal?

“Hell is the other people,” the good old Jean Paul Sartre said.


SHTISEL 1 por Wladimir Weltman
Não sei quem foi que disse que escrever com fidelidade sobre nosso microcosmo nos possibilita tocar o coração do mundo inteiro. Somos todos nós, seres humanos, essencialmente iguais...
Estou quase acabando de ver a serie israelense SHTISEL, que conta a saga dessa família de Haredim, judeus ultra ortodoxos que vivem nos antigos bairros de Mea Shearim e Geula, em Jerusalém.
Shulem Shtisel é o patriarca da família. O casamenteiro do bairro o classifica como “fumante inveterado e comilão”, mas Shulem prefere ser visto como “pai e educador”. Ele é as quatro coisas... Apesar de ser um pai que ama profundamente os filhos, ele acredita que os educar é a coisa mais importante a fazer na vida. Pena que suas lições são fruto apenas de uma lógica edificada na tradição e nos costumes. O coração, infelizmente, é sempre deixado de lado, talvez sobrecarregado pelo colesterol e pelo fumo, que consome em quantidades...
O outro protagonista da série é Akiva, o filho mais novo de Shulem. Sensível, ele ainda sofre com a perda da mãe e está dividido entre seguir os passos do pai – casando-se com uma moça escolhida pelo casamenteiro e seu pai; tornando-se mais um professor da escolinha onde o pai também é professor. Ou seguir o seu coração, casando-se com mulher que ama e tornando-se o artista plástico que nasceu para ser.
Na história ainda temos personagens primorosos como Giti, a irmã de Akiva, uma heroína de vontade de ferro; Tzi-Arie, o filho que queria ser cantor e virou acadêmico do Talmud; Malka, a avó do clã que curte novelas americanas na TV. E por aí vai. Um universo rico, humano, interessantíssimo, no qual mergulhamos ao assistir a serie israelense.
Eu não consigo parar de ver e de pensar nela.
A construção dos personagens e de seu universo é primorosa. E a trama essencial, que envolve todos os personagens me faz lembrar de uma visita que fiz a Israel em 1973.
Entre outros lugares visitei a cidade de Nablus (Shechen) na Cisjordânia, para conhecer um povo fóssil: os Samaritanos. Sim, refiro-me exatamente ao povo daquele personagem do Novo Testamento, o bom Samaritano que ajudou o viajante do evangelho.
Os Samaritanos seriam hebreus das tribos de Efraim e Menashe e que não teriam sido levados para o exilio da Babilônia. Quando seus irmãos voltaram do exilio, os dois grupos se estranharam. Suas tradições haviam se diferenciado um pouco e eles seguiram caminhos diferentes...
Séculos se passaram e os Samaritanos mantiveram-se fiéis as suas tradições vivendo em torno do monte Grizin, ao lado de Nablus. Infelizmente nesses dois mil anos eles só se casaram entre si. Com isso, quando os visitamos nos anos 70, estavam morrendo -- as crianças começaram a nascer com todo tipo de doenças congênitas terríveis. Creio que nessa época foi que passaram a aceitar o casamento de seus filhos com mulheres de fora da comunidade, para evitar o fim inevitável. Testes de DNA mostram que eles são geneticamente mais próximos dos judeus, do que dos árabes palestinos seus vizinhos. Ainda assim os judeus os veem como sendo árabes e os árabes os veem como sendo judeus.
Mas o que isso tem a ver com o seriado SHTISEL?
Entre as muitas coisas que a serie me fez pensar, é que é incrível que esse grupo de judeus ortodoxos apresentados no seriado são como os Samaritanos de Nablus. Eles vivem nesses bairros de Jerusalém, isolados, numa redoma de vidro, com costumes e práticas congeladas num passado remoto. Apesar de antigos, esse modo de vida não chega a ser bíblico. É algo que os Haredim trouxeram da Europa. Caso “Moshé Rabeino” (o Moises da Bíblia) descesse do céu para visita-los, não entenderia o porquê dos negros casacões longos e seus chapéus peludos, todos típicos da Europa oriental do século XIX. Moises jamais teria cruzado o deserto por 40 anos com essas roupas...
O fato é que hoje, em 2019, eles ainda vivem assim. Mea Shearim, ainda é um gueto judeu dentro do Estado Judeu. Eles não servem o exército israelense e, muitos deles, sinceramente, não aceitam a criação do próprio Estado. Para eles Israel só será possível com a vinda do Messias.
Tudo no seu mundo gira em torno da tradição e da leitura da lei judaica na sua forma mais arcaica. E, apesar dos profundos e afetivos laços familiares, eles sacrificam a todos evitando estourar essa bolha retrograda em que vivem isolados do mundo e que os aprisiona num passado ancestral.
Critica-los é fácil, mas o quanto nós mesmos não criamos nossas bolhas de isolamento social, em que nos acomodamos e nos protegemos de nossos desejos e sonhos mais profundos?
O quanto não imitamos os judeus e samaritanos em suas rusgas milenares, aos nos dividirmos em posições extremadas, através da internet e demais fóruns, apontando dedos e acusando-nos mutuamente, donos de uma verdade cuja validade parece ter uma chancela divina?
“O inferno são os outros”, já dizia o velho e bom Jean Paul Sartre.

2 comentários:

  1. Wladimir,conheci seu pai quando eu tinha 5 anos, hoe tenho82. Talvez começar meu comentário citando meu amigo Moysés, me deu aulade português na vila da Praça da Bandeir a, tenha vindo devido a que ao ler seu texto consegui "enxergar" o que se passava na minha mente,meu pais eram ortodosos e muito humanistas. Obrigado

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  2. Wladimir, seu tio Henrique e eu fazemos parte de um grupo de pessoas que se formaram no antigo Ginásio Hebreu Brasileiro em 1952. Seu texto foi muioto apreciado. Segue um comentário: "Jose Levinson
    qui, 17 de jan 22:44 (Há 8 horas)
    para fraim001, Alexandre, Ary, Bety, Cesar, Chiquinho, David, Fany, fraimglobo, Gerson, Gladys, Helena, Henrique, Jacob, Jankel, JAYME, Jose, josebronz@gmail.com, Laura, Manoel, Mauricio, Max, Mendel, Miriam, Moyses, Moyses, Samuel, Selmo, Stella, suzana.grinspan, Yvonne

    Wladimir, que bela, e inteligente, esse seu resumo. Um teaser maravilhoso. Obrigado e parabéns.

    Em qua, 16 de jan de 2019 07:55, fraim001 Hecht <fraim001@gmail.com escreveu:


    SHTISEL 1 por Wladimir Weltman

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