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In a career spanning over 30 years of experience in journalism, TV production, film and TV scripts, Wladimir Weltman has worked for some of the most important companies in the industry in the USA and Brazil. Numa carreira que se estende por mais de 30 anos de experiência em jornalismo, produção de tevê, roteiros de cinema e TV, e presença frente às câmeras Wladimir Weltman trabalhou em algumas das mais importantes empresas do ramo nos EUA e no Brasil.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

UMA QUESTÃO DO TAMANHO DO CAZAQUISTÃO

 

Ontem pela manhã recebi um e-mail do Sr. Ayauly Akylkhan, Presidente do Conselho da Associação Americana Cazaque. Uma copia da carta que ele havia enviado à HFPA – Hollywood Foreign Press Association, organização da qual não faço parte, mas por ser um jornalista estrangeiro acreditado junto a MPAA (Motion Picture Association of America), fui incluído:

“6 de janeiro de 2021

 

Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood

 

Ao

Sr. Ali Sar, Presidente.

Conselho de Administração

& Todos os membros votantes da HFPA

 

Caro Sr. Sar, Diretores do Conselho, Membros votantes da HFPA,

 

A comunidade cazaque americana, ao lado da comunidade cazaque mundial e 18 organizações internacionais e domésticas representando milhões de pessoas em todo o mundo, estão convocando você e sua organização a se posicionarem contra o racismo e a intolerância do Filme Borat Subsequente. Ao longo do filme Sacha Baron Cohen, Maria Bakalova, o elenco e a equipe promovem branqueamento, estereótipos étnicos, racismo, apropriação cultural e xenofobia.

 

A comunidade cazaque em todo o mundo é sub-representada. Os cazaques são nativos da Ásia Central, ainda se recuperando de um passado colonial opressivo, e não têm representação substancial da mídia. Cohen entende isso e explora o Cazaquistão sequestrando sua identidade étnica e lavando-as. Cohen vai além de qualquer padrão moral ou ético, retratando o povo cazaque como misógino, incesto, antissemita, bárbaro e retrógrado, e o público ocidental o leva a valor facial devido ao uso de símbolos e linguagem nacionais cazaques reais.

 

Desde 2006, os cazaques em todo o mundo têm relatado casos de assédio sexual e físico, bullying e perda de emprego como resultado direto de Borat. As crianças cazaques têm medo de dizer que são cazaques. Mulheres cazaques relataram assédio sexual por pessoas alheias ao fato de que as tradições nacionais cazaques não incluem rituais sexuais, danças e incesto, como é sugerido pelos filmes de Borat. Em geral, Borat causou sofrimento mental aos cazaques, traumatizando uma jovem nação que sobreviveu ao nazismo e ao comunismo. Isso não é "apenas comédia" ou "diversão inofensiva", esses filmes têm um impacto direto em milhões de pessoas reais que vivem em todo o mundo.

 

Considerando o clima político social e racialmente consciente de hoje, é inacreditável que um filme racista que repreende abertamente, intimida e traumatiza uma nação de pessoas de cor é uma forma aceitável de entretenimento.

 

Embora o filme de Borat exponha a intolerância no público americano, um filme não pode contrariar a intolerância contra algumas pessoas enquanto se envolve ativamente em intolerância contra outras pessoas. "Racismo irônico" ainda é racismo. Vários meios de comunicação de massa relataram racismo em Borat (Variety, Guardian, Independent, CNN, Yahoo). Embora veículos como o The New York Times indicassem que o Cazaquistão abraçou a sequência de Borat porque a National Kazakh Tourism Company (NKTC) usou o slogan "Very Nice" em sua campanha publicitária, isso não é preciso. O NKTC é uma empresa semiprivada e a ideia foi lançada e implementada por um cidadão americano branco, Dennis Keen, que usou essa oportunidade para obter ganhos financeiros.

 

A posição oficial do Ministério das Relações Exteriores do Cazaquistão afirma: "Tanto o povo do Cazaquistão quanto seus símbolos nacionais são ridicularizados para fins provocativos. Na verdade, o filme [Borat] tem uma forma pronunciada de racismo e xenofobia. Nossos cidadãos estão justamente indignados com os ataques racistas flagrantes." 

 

Em 2006, Mr. Cohen recebeu o Golden Globes Award de melhor performance, enquanto Borat foi indicado para melhor filme (Comédia ou Musical). Isso não deve acontecer novamente em 2021. Convocamos os membros votantes da Associação a se levantarem contra o racismo em Hollywood e entretenimento, não votando em Borat Subsequente Moviefilm, seu elenco e equipe. Não há lugar para o racismo em 2021.

 

Ayauly Akylkhan

Presidente do Conselho da Associação Americana cazaque


 

Gia Noortas,

Membro do Conselho da Associação Americana cazaque

 

CEO Hollywood Film Academy LLC

Nihad Awad

 

Diretor Executivo Nacional

Conselho de Relações Americano-Islâmicas

 

Hiba Rahim

Coordenador Regional de Tampa Bay

Conselho de Relações Americano-Islâmicas – Flórida”

Achei interessante a questão e me fez ficar pensando nesse dilema, afinal sou jornalista, mas também roteirista e de humor.  

Por coincidência isso aconteceu poucos dias depois da palhaçada engendrada em Washington pelos seguidores de Mr. Trump, empurrando os EUA para o perigoso terreno da galhofa política, dando a nós, autores cômicos, mais material pra criticar através de piadas...  

Como jornalista que sou, antes de me manifestar, fui ouvir as partes envolvidas e buscar informações. Em ato continuo escrevi a amigos meus que são membros da HFPA e pedi a posição oficial da entidade a essa carta. Essa foi a resposta que recebi:


“O HFPA leva a sério todas as questões de abuso ou discriminação em potencial.  A HFPA também está comprometida com a liberdade de expressão artística e em deixar a consideração de qualquer filme até o julgamento dos eleitores do Globo de Ouro.

 

Ali Sar, Presidente da HFPA

Em nome do Conselho de Administração da HFPA”

Escrevi também para o departamento de publicidade internacional da TWENTIETH CENTURY FOX, distribuidora dos filmes de Borat e pedi a posição oficial do estúdio frente a questão. Assim como o PR pessoal do ator e diretor Sacha Baron Cohen. Até o presente momento essas duas partes não me deram retorno (assim que emitirem uma resposta, prometo postar).

 O passo seguinte foi buscar informação, pois confesso que até ver o primeiro filme de Borat, não tinham a menor ideia de que o Cazaquistão realmente existisse. Desculpe minha ignorância, mas cheguei a pensar que ele havia inventado esse pais, perdido nos cafundós do Judas, algo imaginário entre o Afeganistão, o Paquistão, a Mongólia e a antiga União Soviética. Mergulhado em todo tipo de atraso sócio-político e econômico. Na minha pesquisa vim a descobrir que trata-se de uma país que realmente existe e é muito antigo e complexo. Os Cazaquistaneses que perdoem a minha total falta de informação. Segundo a Wikipedia:

”O Cazaquistão é oficialmente um país transcontinental localizado principalmente na Ásia Central, com uma porção menor a oeste do rio Ural, no leste europeu. Ele cobre uma área terrestre de 2.724.900 quilômetros quadrados e compartilha fronteiras terrestres com a Rússia no norte, China no leste, e Quirguistão, Uzbequistão e Turquemenistão no sul, ao mesmo tempo em que se junta a uma grande parte do Mar Cáspio no sudoeste. O Cazaquistão não faz fronteira com a Mongólia, embora estejam a apenas 37 quilômetros de distância... O Cazaquistão é o oitavo maior país do mundo. Possui uma população de 18,3 milhões de habitantes... O território do Cazaquistão tem sido historicamente habitado por grupos e impérios nômades. Na antiguidade, os citas nômades habitavam a terra e o Império Asquemêmido Persa expandiu-se em direção ao território sul do país moderno. Nômades turcos, que traçam sua ascendência a muitos estados turcos, como os khaganatos turcos, habitaram o país ao longo de sua história. No século XIII, o território foi subjugado pelo Império Mongol sob Genghis Khan... Em 1936, tornou-se a República Socialista Soviética cazaque, parte da União Soviética. O Cazaquistão foi a última das repúblicas soviéticas a declarar independência durante a dissolução da União Soviética em 1991.”

Resolvi pesquisar também algumas das questões que dariam consistência a crítica cômica que o personagem criado por Sacha Baron Cohen, o Borat, evidencia em seus filmes e que o Sr. Ayauly Akylkhan refuta como sendo verdadeiras. Descobri que em 2015 um relatório do Human Rights Watch das Nações Unidas, que “a situação dos direitos humanos no país é inaceitável e mudanças de longo alcance são necessárias”. Os direitos de mulheres, gays e demais elementos LGBT do país também é precária. Mas certamente a imagem que Sacha apresenta de Borat e seus conterrâneos é exagerada, para efeito cômico. Ainda assim, certamente ele pegou pesado. Quem diz isso é o jornalista em mim.

Já o roteirista de comédia, que eu também sou, contra-argumenta que a proposta do humor, principalmente o político, é mostrar que o rei está nu. No caso de o GRANDE DITADOR de Chaplin, a crítica foi suave, se comparada com a realidade histórica. Ele assim o fez, porque na época ninguém tinha certeza de até onde iria a loucura do ditador alemão.

No caso do Cazaquistão, um país que somente há 30 anos saiu do regime comunista, ainda tem muito caminho pela frente para se adaptar as benesses e obrigações de uma vida 100% democrática, em todos os sentidos. Pra arbitrar essa disputa entre Borat e cazaquistaneses ofendidos, só indo lá pra conferir. Torço para que nesse processo de modernização, os 70% da população que é muçulmana (de acordo com o Censo de 2009), não empurre o país para o outro lado, o de uma radicalização islâmica, como vem acontecendo em certas áreas do oriente. Por enquanto a Constituição do Cazaquistão garante que ele é um estado laico...

Dito tudo isso, paro pra pensar no nosso cantinho do planeta – o Brasil varonil. Penso e rezo para que nenhum comediante olhe para nós e as notícias que vem de nossa terra e decida produzir um “Borat” tupiniquim.

Nesses anos todos de vida, morei muitos deles no exterior – EUA, Europa e Oriente Médio – e durante todo esse tempo, quando revelava, que apesar de minha aparência ariana, eu era brasileiro, as respostas sempre foram as mais positivas. Todo mundo amava o Brasil. Muitos de nós nos vemos como o coco-do-cavalo-do-bandido, mas para o mundo o Brasil era a terra de gente alegre, bonita, bacana, inteligente e descolada. Gente como Tom Jobim, Gisele Bündchen, Pelé, Paulo Coelho, Airton Senna, Sonia Braga, Machado de Assis, Xuxa, Rodrigo Santoro, Caetano Veloso, Jorge Amado, Roberto Carlos e tantos outros grandes nomes nacionais. Mas agora, com o presidente atual e seu elenco de idiotas oficiais a sua volta, cometendo barbaridades a cada momento, ganhando manchetes mundiais, espelhando nossa vergonha e absurdos, as possibilidades de vir muita gozação pra cima de gente é enorme.

Muito triste o que esta acontecendo no Brasil. Muito triste a imagem destrutiva de nossa nacionalidade que está sendo projetada para o mundo. É apenas uma questão de tempo para que depois de BORAT, e do DITADOR, Sacha volte seu olhar crítico para nós e crie uma versão cinematográfica do nosso “presidente” para as telas do mundo.

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