Esta semana fui convidado a falar a
residentes de um lar de idosos judeus no
Vale de São Fernando, em Los Angeles.
O assunto da palestra era A
HOLLYWOOD JUDAICA. Minha proposta
original era defender a teses de que a
afirmação antissemita de que Hollywood
é comandada por judeus é falsa, e se
algo de verdade existe nisso, vai para
muito além das tradicionais falácias
antissemitas no estilo dos “Sábios de
Sião”. Mas a diretoria do lar me pediu
para evitar enfatizar as acusações
espúrias dos antissemitas, resguardando
o coração dos velhinhos. Ainda mais
nesses tempos em que racistas enlouquecidos atacam sinagogas armados e a turma
dos “fake news” adora postar informações falsas sobre a eterna conspiração judaica de
dominação mundial.
Busquei então falar do assunto, mostrando por A + B que a presença judaica em
Hollywood apesar de marcante, nada tem de perniciosa, mas uma evolução natural da
imigração judaica para os EUA no início do século 20 e um talento natural dos judeus
para com o entretenimento. O que é a pura verdade.
Nada melhor para derrubar preconceitos e falsas verdade do que os fatos. Algo que
gente de mente estreita jamais se dá ao trabalho de fazer. O “achômetro” é a “ciência
exata” dos idiotas, preguiçosos e medíocres.
Essa então foi, na essência, a conferência que dei no “Los Angeles Jewish Home for
the Aging-Eisenberg Village” em Reseda:
“Segundo pesquisas oficiais, atualmente há cerca de 6 milhões de judeus nos EUA.
Isso significa que a comunidade judaica americana é apenas 2,4% de toda a população
adulta do país. Como seria então possivel que apenas 2,4% de um total de 300 milhões
de habitantes seja responsável pelos destinos de Hollywood, a toda poderosa capital
mundial do entretenimento audiovisual mundial? Teriam as teorias de conspiração por
parte dos antissemitas algum fundo de verdade? Por incrível que pareça há uma boa
chance de que essa afirmação não seja totalmente falsa. A resposta para isso não está
em nenhum conspiração secreta, mas na história da indústria cinematográfica
americana desde seu início.
O cinema surgiu no final de 1800 -- em 1891 Thomas Edison inventou sua câmera de
cinema e começou a produzir filmes. Outros fizeram o mesmo, mas Edison odiava a
concorrência e os aos que usavam seus equipamentos, os perseguia com ações
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judiciais para força-los a abandonar o rendoso mercado. Com
isso os cineastas independentes (vários deles de origem
judaica) decidiram se afastar ao máximo possível de Nova
Jersey e do Sr. Thomas Edison. Eles foram parar numa
cidadezinha insipiente perto de Los Angeles chamada
Hollywood. Logo o lugar se tornou a Meca da produção
cinematográfica. E em 1919 Hollywood já era o endereço
definitivo do cinema americano.
Quando os filmes ganharam som no início dos anos 30, seis
dos primeiros estúdios estabelecidos em Hollywood haviam se tornado os maiores do
país e todos eram dirigidos por judeus. Estamos falando de William (20th Century) Fox,
a Universal Pictures de Carl Laemmle, a Paramount Pictures de Adolph Zukor, a Metro-Goldwyn-Mayer de Louis B. Mayer, a Columbia Pictures de Harry Cohn e a Warner
Bros. dos irmãos Warner... Mas por que e como esses mega estúdios foram parar nas
mãos de imigrantes judeus?
Muitos desses magnatas do cinema vieram do comércio de roupas e do vaudeville,
duas atividades nas quais os judeus-imigrantes eram bem-vindos e atuantes; e porque
os banqueiros, o dinheiro antigo, a alta sociedade anglo-saxã-cristã olhava com
desprezo e desinteresse para o cinema. Nessa época os judeus americanos viviam
excluídos das demais indústrias, além dos clubes privados, hotéis e universidades.
O comediante Groucho Marx, que começou a carreira artística no
vaudeville e cujos pais vieram da Alemanha e da Alsácia francesa, uma
vez disse, depois de ter sido recusado como socio num clube chique por
ser judeu. Ele pediu que ao menos deixassem sua filha frequentar a
piscina, já que ela era apenas meio judia: “Ela pode entrar na agua só
até os joelhos”...
Como os WASP (white Anglo-Saxon and protestant) achavam que o cinema era moda
passageira e coisa de gentinha (os ingressos eram baratos e as classes menos
privilegiadas lotavam as salas de projeção durante a depressão dos anos 30), os
empresários judeus puderam tomar conta da indústria cinematográfica sem nenhuma
restrição do “establishment”. Na verdade esses magnatas judeus da 7° arte,
entenderam muito cedo que o cinema era um grande negócio.
Existe até uma lenda de que os irmãos Warner antes de investir o
que tinham em Hollywood, levaram a matriarca da família, dona
Pearl Leah, pra assistir um filme e abençoar o investimento. Ao
sair do cinema, Pearl comentou: “Me parece um ótimo negócio. O
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cliente chega, paga antes de saber o que vai levar. E quando vai pra casa, sai com as
mãos abanando, feliz da vida, prometendo voltar. E nem se precisa fazer estoque de
mercadoria! Não pode haver melhor negócio.”
A ironia, porém, é que esses imigrantes judeus, esses comerciantes astutos, alguns
com apenas uma educação básica, ajudaram a criar a maneira como os americanos e
o resto do mundo vêem os EUA. A imagem do que é a “América” e do chamado “sonho
americano” foi uma ação de “branding” idealizada e realizada por Hollywood ao longo
de anos através de seus filmes. Como esses judeuzinhos fizeram isso?
O “American Dream” é o conjunto de hábitos, crenças, mitos
que definem os Estados Unidos. Esse ethos americano inclui
ideais como democracia, direitos humanos, liberdade,
oportunidade e igualdade. O termo foi cunhado pelo autor e
historiador James Truslow Adams em 1931, baseando-se na
Declaração de Independência americana, que proclama que:
“todos os homens são criados iguais” com o direito à “vida,
liberdade e busca da felicidade”. Algo com o que esses
imigrantes sonhavam ainda na Europa, onde os pogroms
assassinavam os judeus e onde não havia perspectiva de uma
vida melhor para nenhum deles. Os EUA representava para eles a possibilidade dessa
nova vida, mais rica e mais completa, com oportunidade para cada um de acordo com
sua habilidade ou esforço, independentemente da classe social ou circunstâncias de
nascimento. Uma liberdade que incluía a possibilidade de prosperidade, sucesso e
mobilidade social para eles e seus filhos, numa sociedade com poucas barreiras.
Mesmo que a realidade americana não fosse realmente assim (e não o é até hoje),
essa era a imagem que esses donos de estúdios queriam ver retratadas nos seus
filmes. Como já dizia o poeta Raul Seixas – “Sonho que se sonha só, é só um sonho
que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto, é realidade”.
Ainda assim fica a questão: como simples homens de negócio puderam ter essa visão
profunda e que gerou um resultado de proporções tão marcantes?
A explicação disso talvez se encontre no DNA judaico... Ao longo da história, os judeus
sempre foram chamados de “O Povo do Livro” por causa do vínculo eterno entre eles e
a sua Torá, o Pentateuco, a Bíblia judaica.
Um jornalista não judeu, Andrew Marr escreveu:
“Os judeus sempre tiveram histórias para o resto
de nós”. Desde cedo, contar histórias tem sido
parte central da tradição judaica. Somos assim
desde a época em que nossos ancestrais
contavam histórias ao redor da fogueira à noite.
Os judeus são animais contadores de histórias.
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O falecido Elie Wiesel também disse uma vez: “Deus criou o homem porque Deus ama
histórias”.
Não é à toa que ao longo desses muitos anos de premiações da Academia de Cinema
de Hollywood, mais de um terço dos Oscars de Melhor Roteiro Original e Melhor
Roteiro Adaptado foram dados a roteiristas judeus. Entre os muitos indicados e
ganhadores encontramos nomes como, Herman Mankiewicz, Paddy Chayefsky, Sidney
Sheldon, Alan Jay Lerner, Richard Brooks, William Goldman, Claude Lelouch, Mel
Brooks, James L. Brooks, Peter Shaffer, Ruth Prawer Jhabvala, Alfred Uhry, Steven
Zaillian, Eric Roth, Akiva Goldsman, Aaron Sorkin, Graham Moore, David Rabinowitz &
Charlie Wachtel, Taika Waititi, Tom Stoppard, Charlie Kaufman e um monte de outros.
Também existe uma impressionante lista de grandes diretores de cinema. Mais de 26
Oscars foram entregues a diretores judeus como William Wyler, Michael Curtiz, Fred
Zinnemann, Billy Wilder, Joseph L. Mankiewicz, Jerome Robbins, George Cukor, Mike
Nichols, John Schlesinger, William Friedkin, Milos Forman, Woody Allen, Oliver Stone,
Sydney Pollack, Barry Levinson, Ethan & Joel Coen, Steven Spielberg, Sam Mendes,
Roman Polanski, Michel Hazanavicius (alguns deles também premiados como
roteiristas).
Sem mencionar que mais de 47 Oscars de Melhor Ator ou Atriz dados a artistas judeus.
Afinal, a arte de fazer as pessoas chorar ou rir, seja na tela ou no palco, sempre foi
uma tradição judaica. A comédia e o drama têm sido uma parte importante do judaísmo
desde os tempos bíblicos.
Quando Abraão disse à Sara, que já era idosa, que Deus predisse sua gravidez, Sara
riu, e a criança foi chamada Isaac, que em hebraico é “Itz-chak”, ou seja – ela se riu...
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Todo sábio judeu sempre transmite seus ensinamentos através de parábolas, fazendo
a congregação rir ou chorar. Jesus era mestre nisso. Que outra nação ousa falar com
Deus com doses descaradas de sarcasmo, ironia e ousadia mais do que os judeus?
Somos essencialmente histriônicos e o mundo sempre foi nosso palco. Nada é mais
natural do que vários de nós brilhássemos como centro das atenções ou na frente das
câmeras de Hollywood.
Aqui estão alguns dos grandes atores judeus que ajudaram e continuam ajudando a
construir Hollywood – Paul Muni, Dustin Hoffman, Richard Dreyfuss, Paul Newman,
Michael Douglas, Daniel Day-Lewis, Adrien Brody, Sean Penn, Joaquin Phoenix,
Norma Shearer, Judy Holliday, Simone Signoret, Elisabeth Taylor, Barbra Streisand,
Marlee Matlin, Helen Hunt, Gwyneth Paltrow, Natalie Portman, Ed Wynn, Peter Ustinov,
Melvyn Douglas, Martin Balsan, Walter Matthau, Joel Grey, George Burns, Kevin Kline,
Martin Landau, Alan Arkin, Shelley Winters, Goldie Hawn, Tatum O’Neal, Lee Grant,
Jennifer Connelly e Patricia Arquette.
Talvez a melhor resposta que um ator já deu a um antissemita sobre Hollywood e os
judeus tenha sido a de Charles Chaplin. Quando lhe jogaram na cara que ele era judeu,
Chaplin respondeu: "Receio não ter essa honra".”
Por tanto, se algum antissemita repetir o comentário de que
Hollywood é comandado por judeus, pode responder que ele
está absolutamente certo – os judeus e seu imenso talento para
contar histórias. Qualquer dúvida vá ler a sua Bíblia ou as
indicações do Oscar...
FIM
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