Almodovar - Além de ser muito talentoso, Gael é baixinho, e fica mais fácil transformá-lo. Um sujeito espadaúdo com roupas femininas sempre pode parecer grotesco. Fiz testes com dezenas de espanhóis, mas ele foi o único ator que se mostrou igualmente desejável como homem e como mulher. Ele é como Javier Bardem: não importa se está gordo ou magro, com ou sem olheiras, a câmera continua enamorada dele. Ambos são excepcionalmente fotogênicos. E tenho certeza de que Gael vai ser um astro ainda maior do que já se tornou. Tenho essa sorte: muitos dos atores com quem trabalhei estouraram. E, quem sabe, eu dê um pouco de sorte a eles também com meus filmes.
WLADIMIR - COMO FOI TRATAR DE SUAS LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA NUM FILME?Almodovar -Todos os filmes que fiz, foi porque precisava fazê-los. Mas, no caso de Má Educação, essa necessidade parecia ainda maior. Se eu tivesse rodado o filme quinze ou vinte anos atrás, contudo, ele seria um ato de vingança. Nessa altura da minha vida, terminá-lo foi uma liberação.
WLADIMIR - SENHOR SEMPRE SE MANTEVE DISTANTE DA POLÍTICA. MAS, DURANTE AS ELEIÇÕES DE MARÇO NA ESPANHA, O PARTIDO POPULAR DE JOSÉ MARÍA AZNAR, O CANDIDATO DERROTADO, CHEGOU A PEDIR SUA PRISÃO. O QUE ACONTECEU?
Almodovar - Os atentados de Madri ocorreram numa quinta-feira, e no domingo votaríamos num primeiro-ministro. Durante uma das muitas manifestações que aconteceram nos dias seguintes, indaguei se o Partido Popular não estaria propositalmente atribuindo a tragédia aos terroristas bascos e escondendo os indícios de que os autores das bombas eram muçulmanos – porque essas eram as notícias que nos chegavam do exterior. Fui acusado de calúnia, quando estava fazendo uma pergunta legítima.
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