Exatamente há um ano falecia no Rio o diretor Mauricio Sherman. Ironicamente um ano depois a TV Globo anuncia o fim do Zorra, programa de humor dos sábados à noite, que substituiu o Zorra Total e aproveitou do nome, de boa parte do elenco, de 3 redatores do original na esperança de capturar o interesse da audiência do programa que era um dos quatro campeões de IBOPE da Globo. Apesar de fazer um humor inteligente, elegante, bem produzido, bem escrito, o novo Zorra não conseguiu manter os mesmos níveis de audiência do antecessor. Na verdade, a opção da direção de sofisticar o programa foi obviamente um erro e demonstrou pouco conhecimento do público que era fiel ao Zorra Total, assim como do público que hoje ainda assiste TV aberta no Brasil, ou seja, o povão.
Tiraram
o Sherman sabe-se lá porque. Talvez porque ele já estivesse com idade avançada.
Algo que nunca o impediu de se reinventar em mais de 60 anos de televisão.
Talvez porque seu Zorra fosse cheio de bordões, clichês, humor antigo de rádio
etc. Só que ele fazia o Zorra Total daquele jeito popularzão, por opção
consciente, não por falta de visão ou capacidade. Ele sabia a quem estava se
dirigindo. E o público retornava o favor assistindo em massa ao programa.
Sherman
conhecia tudo de bom e inteligente que se fazia nas televisões americanas e
europeias. Nunca deixou de acompanhar os sucessos e novos lançamentos. Do mesmo
jeito que ele ficava de olho em novos talentos no teatro brasileiro para
engrossar as fileiras de atores e autores dos seus programas de TV.
Sherman
acompanhava religiosamente as novidades que os gringo colocavam no ar. Ele
estava cansado de saber quem era o clássico da TV americana SNL - SATURDAY
NIGHT LIVE, tanto que mais de uma vez me pediu para ver se era possível enviar
gente da equipe para assistir o método de produção deles (infelizmente não foi
possível).
Assim
como também conhecia todos os novos programas de humor da TV inglesa ou
espanhola. Na verdade ele exigia que eu assistisse e me inspirasse neles para
escrever novos esquetes para o Zorra Total.
Foi no
programa espanhol ESCENAS DE MATRIMONIO (2002 – 2007) e nos esquetes clássicos
de Sid Caesar nos seus shows de TV dos anos 50 -- Show of Shows e Caesar's Hour
(cujos roteiristas eram Woody Allen, Mel Brooks, Neil Simon e Carl Reiner) --
que encontrei inspiração para o quadro Dodô e Dadá, com Nelson Freitas e Helga
Nemetik.
Uma pena
que ele se foi. Uma pena que o Zorra, mesmo travestido de “moderno” se vai
agora. Triste que 3 bons programas de humor saiam do ar exatamente na hora em
que mais estejamos precisando de rir. E pena que na hora em que as televisões
passam por uma crise de audiência e anunciantes, quando mais se precisa de
conhecimento e experiencia, talentos como o do Sherman e de outros grandes
profissionais de televisão possam ser descartados com tanta facilidade.
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