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In a career spanning over 30 years of experience in journalism, TV production, film and TV scripts, Wladimir Weltman has worked for some of the most important companies in the industry in the USA and Brazil. Numa carreira que se estende por mais de 30 anos de experiência em jornalismo, produção de tevê, roteiros de cinema e TV, e presença frente às câmeras Wladimir Weltman trabalhou em algumas das mais importantes empresas do ramo nos EUA e no Brasil.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Novidade - matéria na Contigo!

Tem matéria minha na Contigo nº 1787 de 17 de dezembro de 2009. Mostra Reynaldo Gianecchini em Roma, fotografado em locações de filmes inesquecíveis rodados na capital italiana.

sábado, 31 de outubro de 2009

Matando as Saudades de Banderas

Aqui está um trechinho da entrevista que fiz com Antonio Banderas durante o lançamento de ENTREVISTA COM UM VAMPIRO e que entrou no meu especial de fim de ano na TV Cultura.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lembrando de um sujeito muito legal...


Conheci Patrick Swayze pessoalmente em 1991, durante o lançamento do filme "Caçadores de Emoção" (Point Break). Voltei a falar com ele em 1995 quando lançou "Three Wishes" e em 1998 por causa de "Black Dog".
Em todas essas vezes, que tive oportunidade de conversar com ele, a sensação era sempre a mesma: esse cara é um sujeito legal. Comentário banal? Não acho. Gostaria de que quando não esteja mais aqui, as pessoas que me conheceram possam pelo menos dizer isso de mim -- era um cara legal. E Patrick era isso mesmo. Gostava da esposa, amava seu trabalho e abraçava cada projeto com paixão e determinação. A intensidade que suas personagens apresentam na tela, era a mesma com que ele encarava sua vida e seu trabalho.
Fiquei triste ao saber da notícia de sua morte. Morte prematura e cruel. A garra com que encarava seus desafios cotidianos, não foi suficiente para vencer a terrível doença. Sinceramente lamento. Patrick, como suas personagens, merecia um final mais feliz. Mas ninguém pode negar que ele lutou até o fim com um verdadeiro mocinho da tela. Não fugiu da luta e mostrou disposição até a última bala do revólver. Que descanse em paz.
Aqui a transcrição de uma entrevista de TV que fiz com ele sobre o filme "Black Dog" em que fazia um caminhoneiro heróico.
WLAD - PATRICK, WHAT ATTRACTED YOU TO THIS PROJECT ?
PATRICK SWAYZE - I'd been looking for an action movie that wasn't just about blood and guts and had some kind of dramatic element and I love big trucks and when I read the script it was a page turner. You know, it was like a real E Ticket ride and, you know, because then all an audience has to do is sit down in the seat and kick back and the movie will take off and after playing a drag queen and wearing panty hose, I figured I'd better - better get macho fast otherwise people will start wondering about me but it doesn't make me a bad person so there.

WLAD - WHAT "BLACK DOG" HAS DIFFERENT FROM MOST ACTION FILMS THAT ARE RIGHT NOW ON THE MARKET?
PATRICK SWAYZE - BLACK DOG is an honest action movie, you know. I'm not a character who's a Superman or is Mr. Kung Fu or Rambo. I'm just a normal, everyday guy who happens to be one hell of a truck driver and - and I think the reason I liked the movie is I think it's identifiable or able to be identified with by any man in the world or any woman - with all of us, if you threaten my family, I will stop you. If you try to harm my family, I'll kill you if I have to and I think that's something that we all carry with us; that, you know, it's our job; it's our function to protect the beings that we love and especially if they're in danger because of your mistake, you know. He makes a mistake. He makes a bad decision and almost pays for it.

WLAD - IN THIS FILM ALSO WE HAVE A CHANCE TO SEE TWO GREAT SINGERS WORKING AS ACTORS -- MEATLOAF & RANDY TRAVIS -WHAT DO YOU THINK ABOUT SINGERS TAKING THE PLACE OF ACTORS?
PATRICK SWAYZE - If they can do the job, more power to them. I mean, that's one neat thing about the film is there are a lot of really nice performances. Randy Travis puts forth a really wonderful complete full character and Meatloaf, actually, I don't know if people realize the level of background Meatloaf has. We call him Me-ate-lo-wof (phonetic). He has a great deal of talent as an actor so if they were bogus and they weren't doing the job, it might have, you know, gotten under my skin but they - not only are they wonderful guys but they're talented musicians and as actors.

WLAD - NOW I HAVE TO TALK ABOUT BRAZIL. IF I AM NOT WRONG, LAST TIME WE TALKED YOU MENTIONED YOU WERE GOING TO BRAZIL. HAVE YOU BEEN THERE?PATRICK SWAYZE - Yes.

WLAD -WHAT DID YOU DISCOVER OVER THERE?
PATRICK SWAYZE - Oh, I discovered a wonderful place and I love the people. There's a sense of joy and a sense of fun that exists and people also are very good at what they do. I was shown around, my wife and I, were shown around Brazil by many people that raise Arabian horses. People like Giselle, who was taking care of us there and so we got to have a great time. We were there to do publicity on a film, but we got to see some Arabian horses' farms and - and see a lot of the country by helicopter. We squeezed a lot in in a short amount of time. It was great.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Eu e Almodovar em Los Angeles - entrevista para a Revista Veja - 10/10/2004

WLADIMIR - POR QUE O SENHOR ESCOLHEU O MEXICANO GAEL GARCIA BERNAL PARA INTERPRETAR UM PERSONAGEM TÃO ESPANHOL QUANTO O IGNACIO DE MA EDUCAÇÃO?
Almodovar - Além de ser muito talentoso, Gael é baixinho, e fica mais fácil transformá-lo. Um sujeito espadaúdo com roupas femininas sempre pode parecer grotesco. Fiz testes com dezenas de espanhóis, mas ele foi o único ator que se mostrou igualmente desejável como homem e como mulher. Ele é como Javier Bardem: não importa se está gordo ou magro, com ou sem olheiras, a câmera continua enamorada dele. Ambos são excepcionalmente fotogênicos. E tenho certeza de que Gael vai ser um astro ainda maior do que já se tornou. Tenho essa sorte: muitos dos atores com quem trabalhei estouraram. E, quem sabe, eu dê um pouco de sorte a eles também com meus filmes.

WLADIMIR - COMO FOI TRATAR DE SUAS LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA NUM FILME?Almodovar -Todos os filmes que fiz, foi porque precisava fazê-los. Mas, no caso de Má Educação, essa necessidade parecia ainda maior. Se eu tivesse rodado o filme quinze ou vinte anos atrás, contudo, ele seria um ato de vingança. Nessa altura da minha vida, terminá-lo foi uma liberação.

WLADIMIR - SENHOR SEMPRE SE MANTEVE DISTANTE DA POLÍTICA. MAS, DURANTE AS ELEIÇÕES DE MARÇO NA ESPANHA, O PARTIDO POPULAR DE JOSÉ MARÍA AZNAR, O CANDIDATO DERROTADO, CHEGOU A PEDIR SUA PRISÃO. O QUE ACONTECEU?
Almodovar - Os atentados de Madri ocorreram numa quinta-feira, e no domingo votaríamos num primeiro-ministro. Durante uma das muitas manifestações que aconteceram nos dias seguintes, indaguei se o Partido Popular não estaria propositalmente atribuindo a tragédia aos terroristas bascos e escondendo os indícios de que os autores das bombas eram muçulmanos – porque essas eram as notícias que nos chegavam do exterior. Fui acusado de calúnia, quando estava fazendo uma pergunta legítima.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Minha entrevista para Páginas Amarelas VEJA 23/02/2000

Sujeito de sorte!
Morra de inveja: ele não só é rico, famoso e bem resolvido, como está noivo de uma das mulheres mais bonitas de Hollywood

O ator Michael Douglas, 55 anos, tem matado de inveja metade dos habitantes de Hollywood. Mais precisamente, a população masculina da terra do cinema. Desde o início do ano passado, ele namora uma das atrizes mais deslumbrantes e sensuais das telas, a galesa Catherine Zeta-Jones, 25 anos mais jovem que ele, protagonista de filmes como A Máscara do Zorro e A Casa Amaldiçoada. Catherine espera um filho de Douglas para meados deste ano e ambos planejam casar-se em breve. "Quando a vi pela primeira vez, foi como se tivesse levado um soco. Fui à luta para conquistá-la de qualquer maneira", diz o ator. Em 1995, Douglas divorciou-se de sua primeira mulher, com quem teve um filho, Cameron, hoje com 20 anos. Na época, jurou que não se casaria de novo e chegou a montar um apartamento de solteiro. Tudo em vão. Pouco tempo depois, dobrou-se aos encantos de Catherine.

Filho do veterano ator Kirk Douglas, Michael Douglas tornou-se um dos rostos mais conhecidos do cinema em filmes como Assédio Sexual (em que vivia tórridas cenas de amor com Demi Moore), Instinto Selvagem (idem com Sharon Stone) e Atração Fatal. Tem um Oscar de melhor ator por seu desempenho em Wall Street – Poder e Cobiça. Recebe 18 milhões de dólares por fita, um dos maiores cachês de Hollywood. A maior parte do público desconhece que ele é também um próspero produtor cinematográfico. Um de seus investimentos mais bem-sucedidos nessa área, em parceria com Saul Zaentz, foi em Um Estranho no Ninho, o soberbo filme estrelado por Jack Nicholson que, em 1976, arrebatou cinco Oscar nas principais categorias. Nas horas vagas, Douglas se dedica a campanhas em favor do desarmamento. Às vésperas de lançar nos Estados Unidos seu novo filme, Wonder Boys (ainda sem título em português), ele deu a seguinte entrevista a VEJA.

Veja – Depois de separar-se de sua segunda mulher, o senhor declarou que não pretendia mais se unir a ninguém. Mas há um ano está namorando a atriz Catherine Zeta-Jones, que está grávida de um filho seu e com quem pretende se casar. O que o fez mudar de idéia?
Douglas – Eu realmente pretendia ficar solteiro, mas me apaixonei por Catherine. O que mais posso dizer?

Veja – Como isso aconteceu?
Douglas – Fui assistir ao filme A Máscara do Zorro, no qual Catherine trabalha. Quando ela apareceu na tela foi como se eu tivesse levado um soco no queixo. Pow! Achei-a deslumbrante. Não me lembro de ter ficado tão fascinado por uma atriz na tela desde Julie Christie, e olhe que isso faz tempo. Semanas depois, fui ao festival de cinema de Deauville, na França. Sabia que Catherine também estaria presente com seu Zorro. Arranjei para sermos apresentados e, para minha sorte, além de bonita, ela se mostrou encantadora, com um senso de humor notável e sem nenhuma afetação. A imprensa sensacionalista noticiou que Catherine armou tudo para me conhecer naquele festival, mas não é verdade. Eu é que fui à luta porque estava fascinado por ela.
Veja – Catherine é 25 anos mais jovem do que o senhor. A diferença de idade atrapalha em algum momento?
Douglas – Até agora não atrapalhou. Pelo contrário. No nosso caso, ela ajuda bastante porque evita a competição entre nós. Tenho uma carreira estável, não preciso provar mais nada a ninguém, ao passo que Catherine está apenas iniciando no cinema. Dessa forma, posso torcer plenamente pelo seu êxito, sem compará-lo com o meu. Se ela se casasse com um ator de sua idade, seria inevitável que os dois competissem. Acredito que faz parte da natureza que, a certa altura da vida, os homens comecem a desejar mulheres mais jovens. Nem todos, é claro, procuram ou conseguem satisfazer esse desejo. Vale registrar que, nos últimos tempos, as mulheres mais velhas também andam bem atiradinhas para cima dos rapazes.

Veja – Quando e onde vocês vão se casar?
Douglas – Não conto de jeito nenhum. Quero evitar a todo custo o assédio da imprensa. Em nenhum momento de minha carreira fui objeto de tanta curiosidade. Tudo por causa de Catherine.

Veja – No início de sua carreira, o senhor foi um dos produtores de Um Estranho no Ninho, filme estrelado por Jack Nicholson que ganhou cinco Oscar. Como esse fato influiu em sua carreira? Douglas – Esse êxito precoce quase me levou à loucura. Eu tinha apenas 30 anos, trabalhava num seriado de TV sem importância e havia atuado em duas ou três fitas que nem sequer existem hoje em vídeo. Estava em busca de trabalho e resolvi tentar a produção. De repente o filme se transformou num tremendo sucesso e eu me vi com um Oscar na prateleira. A imprensa chegou a me chamar de garoto prodígio, imagine só. Esse é o tipo de rótulo que pode acabar com a vida de alguém.

Veja – Ser filho de Kirk Douglas o ajudou a atingir o estrelato?
Douglas – Sempre fui muito cobrado por isso. Quando assistia às atuações de meu pai, eu pensava: "Meu Deus, como posso ser igual ou melhor que ele?" Na verdade, só me tornei célebre depois de quarentão, com filmes como Atração Fatal e Wall Street – Poder e Cobiça. Até então, fiz um esforço louco para subir na vida, para me tornar um ator reconhecido.

Veja – Na juventude, o senhor mantinha uma certa distância de seu pai. Como está hoje a sua relação com Kirk Douglas?
Douglas – Depois que ele sobreviveu à queda do helicóptero em que viajava, há nove anos, num acidente que deixou dois mortos, ficamos mais unidos. É como se ele tivesse nascido de novo.

Veja – Vocês são muito parecidos fisicamente.
Douglas – Há poucas semanas papai me telefonou, às gargalhadas, para contar um episódio a respeito disso. Ele estava na frente da televisão tarde da noite, já meio com sono, quando se viu na tela, atuando num filme. Só que não conseguia se lembrar que fita era aquela. Foram necessários alguns minutos para que se desse conta de que o ator era eu, e não ele.

Veja – Quais os seus planos para se manter no topo?
Douglas – Acredito que o artista tem de se reinventar o tempo todo. Usando ainda o exemplo de meu pai: depois dos 70 anos ele resolveu ser escritor. Hoje, aos 83, tem seis romances e três livros infantis publicados. Jamais havia escrito nada antes. Em certos aspectos, a idade que temos é uma escolha nossa. Pode-se permanecer com a mente jovem por muito tempo. Esse mecanismo também pode ser prejudicial, é claro. Há muita gente que se recusa a crescer e, aos 50 anos, pensa e age o tempo todo como fazia aos 25.

Veja – O senhor milita em campanhas pelo desarmamento. Não é uma contradição que muitos de seus personagens, como o de Chuva Negra, usem armas de fogo e sejam violentos?
Douglas – Bem, às vezes é impossível seguir à risca os conselhos que damos. Embora eu considere as armas indesejáveis, elas fazem parte de nossa sociedade. Mas, pelo menos, meus personagens não usam armas de maneira irresponsável, porque desejam matar, pura e simplesmente. São mocinhos.

Veja – Acha que a violência nas telas pode influenciar o comportamento dos espectadores, principalmente os mais jovens?
Douglas – Bobagem. Os japoneses adoram filmes ultraviolentos e a criminalidade no país é baixíssima. O mesmo ocorre no Canadá e na Austrália. É saudável que a indústria do entretenimento discuta a possibilidade de tornar os filmes cada vez menos violentos, mas mais importante que isso é banir as armas, tanto aquelas pequenas, que circulam nas comunidades, quanto as armas nucleares, controladas pelos governos.

Veja – O senhor acaba de estrear um site próprio na internet, http://www.michaeldouglas.com/. A que ele se destina?
Douglas – É um site beneficente e sem fins lucrativos, mas bastante divertido para quem aprecia meu trabalho. Nele funciona uma espécie de fã-clube, em que o internauta se inscreve ao custo de 39,99 dólares por ano, dinheiro que será doado a organizações antiarmamentos. Em troca, ele tem acesso a notícias e chats sobre minha carreira. Vai também encontrar fotos minhas com Catherine que os jornais adorariam ter, mas não têm. Nós fazemos aniversário no mesmo dia, 25 de setembro, e vamos colocar no site imagens de nossas festas. Aliás, essa coincidência fez com que descobríssemos que uma quantidade incrível de pessoas aniversaria por volta dessa data. Sabe por quê? Porque cai exatamente nove meses depois dos feriados de Natal e Ano-Novo, quando nossos papais e mamães se dedicam a fazer várias vezes o que deixam de fazer no resto do ano.

Veja – O senhor é fanático pela internet?
Douglas – Não, mas sempre tenho um computador à mão, onde quer que eu esteja. Gosto de me corresponder on-line.

Veja – É rápido no teclado?
Douglas – Está brincando? Tenho sempre alguém para digitar as mensagens que desejo enviar ou responder. Nos últimos tempos, esse intermediário tem tido um trabalho extra: filtrar as dezenas de perguntas obscenas que me são feitas a respeito de Catherine.

Veja – Há quem ache que a popularização da internet vai tornar as pessoas mais solitárias e que, no futuro próximo, os filmes serão assistidos exclusivamente via rede. O que acha dessas previsões?
Douglas – Totalmente idiotas. Quando o videocassete surgiu, muita gente previu que as salas de cinema estavam com os dias contados, o que não aconteceu. Os adolescentes, por exemplo, jamais deixarão de ir ao cinema. É um dos poucos locais onde podem se encontrar sem a vigilância de seus pais. Isso, para eles, vale ouro. Imagine se algum jovem irá trocar essa experiência por uma tela de computador...

Veja – O senhor pretende usar sua militância para pleitear um cargo público, a exemplo do que faz o ator Warren Beatty?
Douglas – Não. Logo surgiria alguém para escarafunchar o meu passado. E, ao contrário do presidente Bill Clinton, sim, eu traguei. Além disso, em determinadas circunstâncias, um artista pode ser mais poderoso que um político.

Veja – Em quais circunstâncias?
Douglas – Quando dou uma entrevista falando em desarmamento e ela é publicada na seção de cinema dos jornais e revistas, acaba atingindo um público que normalmente não leria sobre o assunto. Além disso, um ator de sucesso costuma ser mais admirado do que um político. Ele também é conhecido no mundo inteiro por intermédio de seus filmes. Por isso, posso levar minha mensagem aos quatro cantos do globo e sempre terei platéias dispostas a ouvi-la. Que político goza dessa mesma condição? Nem mesmo Bill Clinton.

Veja – Em seu novo filme, Wonder Boys, o senhor vive um professor viciado em maconha. Foi difícil interpretar esse papel?
Douglas – Num país tão obcecado pelo politicamente correto como os Estados Unidos, rodar um filme com um herói que se droga é um atrevimento. Enfrentamos muitas desconfianças. O que salvou nossa reputação é que o professor, a certa altura, abandona a maconha e sua vida começa a melhorar.

Veja – Seu companheiro de elenco na fita, o ator Robert Downey Jr., foi preso por porte de drogas logo após a conclusão das filmagens. Condenado, recebeu uma pena de três anos. Esse fato o surpreendeu?
Douglas – Robert é um tremendo ator, mas todos no set sentiam que ele estava prestes a se meter em confusão. Havia se separado da mulher, estava voltando a Los Angeles deprimido e sem ter onde morar. Embora eu ache que sua pena tenha sido excessiva, penso que a única forma de curar um viciado é mesmo a cadeia. Há muitas pessoas que, como Robert, se internam seguidamente em clínicas de reabilitação para combater o vício e não conseguem. Saem de lá e continuam se drogando. Conheço gente que só conseguiu se curar do vício depois de passar um tempo na prisão.

Veja – Seu filho, Cameron, de 20 anos, foi preso no final do ano passado por porte de cocaína. Douglas – Até hoje estou perplexo com o que aconteceu. Longe de mim aconselhar outros pais sobre esse assunto, porque ainda não sei o que aconteceu com meu filho.

Veja – Como se sente às vésperas de ser pai novamente?
Douglas – Feliz. Espero que desta vez eu possa estar mais presente na educação e formação do meu filho. Quando Cameron era criança, eu trabalhava demais, estava sempre viajando para filmagens e campanhas promocionais. Agora vai ser diferente. Fico olhando para meus pais, já velhinhos mas ainda firmes, e penso que devo ter herdado bons genes. Estarei junto com meus filhos ainda por muito tempo. E com meu público também, é claro.

foto com Angelica Huston - anos 90


terça-feira, 30 de junho de 2009

Minha entrevista com Steven Spielberg - Páginas Amarelas da VEJA 25/02/98

Quero barulho
O diretor avisa que fará novos filmespolêmicos e faz o elogio do cinema independenteque floresce em Hollywood
Foto: Pablo Grosby
"Nesta altura da carreira posso me dar ao luxo de não me preocupar com boas bilheterias"

O diretor Steven Spielberg reinou nas duas últimas décadas como menino prodígio de Hollywood, até se tornar um adulto de 50 anos com um filme, quem diria, mal recebido pela crítica e visto com reservas pela sua fidelíssima platéia. Na sua infância na terra da fantasia, ganhou rios de dinheiro com filmes de estrondoso sucesso feitos para crianças de 8 a 80 anos de idade. Foi assim com Tubarão, ET, o Extraterrestre e Parque dos Dinossauros. Os dois últimos estão entre os três mais rentáveis da história, mas ser campeão de bilheteria não bastava para o diretor. Spielberg queria ser reconhecido como um cineasta sensível e humanista. Em 1993, finalmente, com A Lista de Schindler, em que recriou o horror do holocausto judeu na II Guerra, ele pela primeira vez foi premiado com o Oscar em categorias de prestígio: melhor filme e diretor.

Agora, em mais uma empreitada como cineasta maduro, Spielberg, que não é infalível, se deu mal. Seu filme mais recente, Amistad, é uma versão de A Lista de Schindler adaptada para a questão racial americana. Já em cartaz no Brasil, Amistad deixou de bater aqueles recordes de público nos Estados Unidos a que o diretor estava acostumado. Alcançou uma bilheteria de 40 milhões de dólares pouco para quem costuma fazer muito mais do que isso. O filme foi malhado pela crítica e ficou fora da corrida pelos Oscar mais importantes. Concorre apenas em duas categorias secundárias, fotografia e trilha sonora de drama. Para piorar, Titanic, do diretor James Cameron, representante do cinema-espetáculo no qual Spielberg é considerado o maior craque, está prestes a se consagrar no Oscar teve catorze indicações e pode atingir uma marca recorde de arrecadação. Diante do surgimento de um novo rival, James Cameron, Spielberg faz esta ponderação: "Haverá mais Titanics no cinema até que um deles afunde nas bilheterias", comentou em seu escritório, em Los Angeles, onde deu a seguinte entrevista a VEJA:

Veja - Por que a griffe Steven Spielberg não foi suficiente para garantir o sucesso de seu último filme, Amistad, em que o senhor recupera um episódio histórico para tocar na questão racial americana?
Spielberg - Tenho por norma não procurar explicações para os meus sucessos ou fracassos. Existem tantos críticos de cinema no mundo, talvez mais do que o recomendável, que seria supérfluo da minha parte fazê-lo. Meu trabalho é apenas dirigir e lançar filmes.

Veja - Mas não é frustrante que uma produção esmerada, com boa história e elenco de primeira, não estoure nas bilheterias?
Spielberg - Nesta altura da minha carreira, posso me dar ao luxo de não me preocupar tanto assim com boas bilheterias. Hoje, estou mais interessado em transmitir boas mensagens, suscitar discussões entre as pessoas que assistem a meus filmes, enfim, fazer barulho. Desse ponto de vista, Amistad pode ser considerado um sucesso. Além disso, não se pode ignorar a existência da TV. Acho que ele terá um grande público quando passar da telona para a telinha, como foi o caso de A Lista de Schindler, visto por mais de 70 milhões de telespectadores ao redor do mundo. Se 40 milhões assistirem a Amistad na televisão, já terá valido a pena fazer o filme.

Veja - Alguns críticos disseram que Amistad é uma espécie de A Lista de Schindler ruim.
Spielberg - Sem querer entrar em polêmicas vazias, considero essa visão um tanto obtusa. Grosso modo, em determinado momento de sua história negros e judeus foram escravizados por um grupo racial que se julgava superior e, depois de sofrimentos indizíveis, conseguiram libertar-se. Ponto final. Essas são as únicas semelhanças entre A Lista de Schindler e Amistad. No mais, os eventos abordados nesses filmes são muito diferentes.

Veja - O senhor, então, não quis comparar a escravidão negra ao holocausto judeu?
Spielberg - Evidentemente, não. A escravidão já estava presente nos primórdios da humanidade e, em maior ou menor grau, abertamente ou de forma velada, ainda sobrevive em diversas sociedades. Ao longo de 4.000 anos, é triste constatar, parece que aprendemos a conviver com esse pecado, desenvolvendo uma certa tolerância em relação a ele. Isso não quer dizer, é claro, que a escravidão seja justificável ou aceitável trata-se de algo hediondo, a ser combatido vigorosamente pelos cidadãos, governos e entidades de defesa dos direitos humanos. Já o holocausto judeu durante o regime nazista foi uma brutalidade que não encontra paralelo na história humana, especialmente pelos métodos de extermínio em escala industrial empregados pelos carrascos de Hitler. Num período de apenas dez anos uma etnia inteira foi praticamente dizimada na Europa, o berço da civilização ocidental. Uma barbárie.

Veja - O que esperar de Hollywood no próximo século?
Spielberg - Uma reprise do que vem acontecendo neste século. Em certos momentos, teremos uma enxurrada de filmes sobre navios que vão a pique, arranha-céus que pegam fogo e invasões de extraterrestres. Mas bastará que um desses Titanics do futuro afunde nas bilheterias para que os estúdios cinematográficos apertem os cintos e passem a bancar apenas filmes de baixo custo, mais intimistas. Essa é a verdadeira história de Hollywood.

Veja - O senhor é pessimista em relação ao futuro do cinema?
Spielberg - Pelo contrário. Acho que, apesar de todas as limitações impostas pela indústria, há muito espaço para a criatividade e para o surgimento de novos talentos. Prova disso são os chamados diretores independentes americanos, que atuam fora do esquema dos grandes estúdios, como Paul Thomas Anderson, diretor de Boogie Nights. Eles são brilhantes. Estamos passando, aqui nos Estados Unidos, por uma explosão de talentos comparável à da nouvelle vague francesa.

Veja - O senhor já pensou em produzir filmes desses diretores?
Spielberg - No momento, minha produtora, DreamWorks, está produzindo três filmes de cineastas dessa geração. É uma maravilha de todos os pontos de vista: custam pouco e realmente revelam a alma e a consciência do diretor, são um retrato dele na tela, ao contrário das produções monumentais, nas quais o cineasta não pode mostrar muita coisa além de seu talento técnico.

Veja - O senhor raramente convida atores de cachê astronômico para trabalhar em seus filmes. É uma maneira de enfrentar o que o diretor Francis Ford Coppola chamou recentemente de "a ditadura dos atores em Hollywood"?
Spielberg - Acabo de trabalhar com Tom Hanks, que já chegou a ganhar 20 milhões de dólares de cachê, mas não cobrou nada para trabalhar comigo. Ele terá uma participação na bilheteria, assim como eu e outros envolvidos na produção do filme. Quando contato um astro para fazer um filme, tento convencê-lo de que não faz sentido receber uma quantia exorbitante com antecedência, porque se trata de um empreendimento de risco, não se sabe se dará lucro ou prejuízo. Digo que, se a coisa emplacar, ganharemos dinheiro de qualquer maneira, só que depois. O custo dos filmes em Hollywood, atualmente, está ficando proibitivo. Espero que esse tipo de parceria com Hanks acabe rendendo frutos e transformando a maneira de agir dos atores de primeira linha. Eles deveriam ser os primeiros a mudar de atitude com relação aos cachês, já que têm tanto dinheiro no banco.

Veja - Há alguns anos, o senhor disse que o final feliz era uma obrigação do cinema, principalmente em tempos de recessão. Agora que a economia americana vai bem, isso significa que há lugar para finais infelizes?
Spielberg - Não me lembro de ter dito isso. O fato é que colocam muitas frases na minha boca sem que as tenha dito. Seria ingênuo da minha parte acreditar que o cinema tenha de andar a reboque da conjuntura sócio-econômica. Acho que os filmes têm vida própria, existem independentemente do mundo em que foram criados. São como realidades paralelas.

Veja - O surgimento da televisão digital, com altíssimo grau de resolução de imagem e som, representa uma ameaça ao cinema?
Spielberg - Já perdi a conta de quantas vezes foi decretada a morte do cinema nas últimas duas décadas, desde que começaram a entrar no mercado os extraordinários avanços tecnológicos obtidos no campo da imagem. Mas o que se verificou foi exatamente o contrário o cinema soube incorporar essas novidades e está mais vivo do que nunca. Sair para pegar um cineminha continua sendo um dos melhores divertimentos a que pode almejar o homem moderno seja nos Estados Unidos, no Brasil ou no Turquestão. As pessoas vão ao cinema depois do jantar e do almoço espero que um dia aumentem seu apetite por filmes a ponto de ir depois do café da manhã.

Veja - O senhor é a favor de um maior controle sobre a programação veiculada pelas emissoras de televisão?
Spielberg - Não sou a favor da censura, mas gostaria de controlar o que meus filhos assistem na TV, ter a palavra final sobre o assunto em minha própria casa. Assim como todas as crianças, meus sete filhos estão expostos desnecessariamente a um excesso de violência e sensacionalismo. Nesse sentido, acho que serei um dos primeiros a instalar nos aparelhos de minha casa o Violence Chip, aquele dispositivo recém-inventado que permite aos pais programar a televisão para não receber programas considerados impróprios.

Veja - Há muitas cenas de violência na série Indiana Jones, dirigida pelo senhor.
Spielberg - Sim, mas tive o cuidado de não incluir em nenhum dos três filmes cenas de violência gratuita. O fato de os jovens, em sua maioria, gostarem de ver pancadaria e sangue espirrando na tela aumenta a responsabilidade dos que trabalham na indústria do entretenimento é comum que se lance mão da violência apenas para rechear filmes e programas com roteiros e conteúdos pobres.

Veja - O senhor acha que as ligações perigosas entre a estagiária Monica Lewinsky e o presidente Bill Clinton rendem um bom filme de aventura?
Spielberg - Não acho que a vida pessoal do presidente dos Estados Unidos seja da nossa conta. Bill Clinton, não importa o que faça na sua vida amorosa, tem o meu voto porque vem desempenhando bem a função para a qual foi eleito, tem feito um trabalho convincente como líder mundial. Fiquei espantado com a rapidez com que jornais, revistas e a televisão julgaram o caso. Em toda a minha vida, nunca vi uma campanha difamatória tão fulminante e bem orquestrada, e espero não ver novamente. Uma vergonha.

Veja - Cinema é uma atividade com importância social?
Spielberg - É um assunto complexo. Dependendo do contexto, um diretor pode ou não se engajar em determinadas causas, sempre tendo presente que não é isso que o tornará um melhor profissional. Já se rodaram muitos filmes ruins em prol de objetivos nobilíssimos. Acho que, no fundo, o papel social a ser desempenhado pelas pessoas tem menos a ver com as profissões que elas exercem e mais com motivações de foro pessoal. Da minha parte, faço o que posso. Uma das minhas grandes preocupações no momento é recolher e organizar testemunhos de sobreviventes do holocausto. Nos últimos quatro anos recolhemos mais de 40.000 depoimentos. Minha meta é chegar a 60.000 daqui a um ano e meio. Se não me falha a memória, só no Brasil coletamos cerca de 650 relatos, através do escritório que mantemos em Buenos Aires. Também me preocupo com uma fundação voltada para crianças doentes, que não podem deixar os hospitais e voltar para casa. Essa fundação fornece computadores às alas infantis dessas instituições, para que as crianças possam se comunicar com outras que também passam por problemas semelhantes. Tem sido um sucesso.

Veja - O senhor tem sete filhos, dois deles adotados. Os pais naturais dessas crianças são viciados em crack...
Spielberg - Não gosto de falar sobre assuntos familiares em entrevistas. O que posso dizer é que a adoção trouxe muita felicidade à minha vida. Quando meus filhos adotivos crescerem e quiserem saber a respeito de suas origens, de seus pais naturais, eu e minha mulher contaremos toda a verdade por mais difícil que seja para nós, é um direito deles.

Veja - O senhor assistiu a O que É Isso Companheiro?, do diretor brasileiro Bruno Barreto, marido de sua ex-mulher, a atriz Amy Irving?
Spielberg - Bruno não é apenas marido de minha ex-mulher, mas também meu amigo. Amei o seu novo filme, que me revelou o caso do seqüestro do embaixador americano no Brasil, sobre o qual nada sabia. O que É Isso Companheiro? é emocionante e tem boas chances de levar o Oscar. Sem dúvida, é o melhor filme de Bruno.

video - entrevista com raptor - Jurassic Park 3

Minha entrevista com "Mr. Músculos" para as Páginas Amarelas da VEJA - 24/05/2000

Aos 52 anos e operado do coração, o maior ator de Hollywood (em envergadura) não pensa em parar de fazer filmes de ação.
"Não faria um filme de arte. Isso poderia ser interpretado como sinal de decadência, de que topei trabalhar por pouco dinheiro".

Três anos atrás, Arnold Schwarzenegger foi submetido a uma cirurgia para trocar uma válvula defeituosa do coração. Muito se especulou se ele poderia voltar a estrelar aquelas fitas de aventura que fizeram dele um dos astros mais bem pagos de Hollywood, com cachês acima dos 20 milhões de dólares. Schwarzenegger, no entanto, provou que uma vida inteira de culto à forma física rende bons dividendos. Há poucos meses, o ex-mister Universo protagonizou um detetive que luta contra o demônio em Fim dos Dias. No momento, está rodando The 6th Day, sobre um sujeito que é clonado ilegalmente e tem de fugir dos malfeitores que desejam matá-lo. Em suma, ele não quer deixar de ser herói de ação. "Ainda sou capaz de correr como na juventude", orgulha-se. Há mais de trinta anos radicado nos Estados Unidos, o astro também continua pensando com carinho na possibilidade de se candidatar a um cargo político. Detalhe: republicano convicto, ele é casado com uma representante do clã democrata dos Kennedy, a jornalista Maria Shriver, com quem tem quatro filhos.

Se há algo que irrita o astro nascido na pequena cidade austríaca de Graz são as freqüentes insinuações de que ele é simpatizante do nazismo. Schwarzenegger refuta peremptoriamente esse tipo de acusação e processa os incautos que porventura a façam. Já ganhou vários desses processos. Mas confessa que gosta de educar os filhos com a disciplina típica de seu país. Mais: faz questão de que, desde a mais tenra infância, eles se habituem a esquiar na neve.
Schwarzenegger falou a VEJA no set de filmagens de The 6th Day, em Vancouver, no Canadá.

Veja – Aos 52 anos, ainda é possível interpretar bem heróis de filmes de ação? Não estaria na hora de passar o bastão a atores jovens?
Schwarzenegger – Antes de mais nada, acho que não cabe a mim passar o bastão adiante. É o público que deve decidir se ainda sirvo ou não para fazer esses filmes. Até agora não ouvi queixas. Na verdade, sinto-me tão ativo quanto na juventude.
Exercito-me duas vezes por dia. Sou capaz de correr na mesma velocidade de antes e, se preciso, tenho energia para ficar acordado a noite inteira ou para saltar de pára-quedas.

Veja – Como o senhor vê o público desses filmes?
Schwarzenegger – Acho que, na década de 80, a demanda pelo gênero refletiu uma grande mudança ocorrida na sociedade. A emancipação feminina fez com que os homens se sentissem alijados do lugar que ocupavam. Nesse contexto sócio-psicológico, assistir a filmes de ação foi um dos modos que eles encontraram para viver a fantasia do macho forte e controlador. Nos últimos anos, porém, a situação mudou. Como os homens perceberam que nada lhes foi tirado, e sim acrescentado, os filmes de ação passaram a contar com heróis mais sensíveis, menos descerebrados. Já não há mais necessidade de personagens que encarnem tão fielmente o estereótipo machista. Enfim, havia um vácuo e nós o preenchíamos. Assim como acontece na política, é preciso sempre caminhar junto com o público.

Veja – O senhor faria um filme de arte?
Schwarzenegger – Acho que não. Isso poderia ser interpretado como sinal de decadência, de que topei trabalhar por pouco dinheiro porque não tinha proposta melhor.

Veja – Há um debate em curso nos Estados Unidos sobre a responsabilidade do cinema na violência social. O que pensa a respeito?
Schwarzenegger – Quando há episódios horríveis, como o de jovens que assassinam outros nas escolas, a primeira providência dos políticos americanos é pôr a culpa em Hollywood. Isso é estúpido, porque sugere que alguém sabe por que essas tragédias acontecem. Só que ninguém tem essa resposta. É preciso pensar em tudo o que está errado antes de sair por aí condenando o cinema. Os pais têm dificuldade de transmitir bons valores a seus filhos. Os políticos mostram incompetência para criar programas que mantenham as crianças ocupadas e criem um ambiente saudável nas escolas. Vendem-se armas indiscriminadamente. Os pais precisam ficar muito tempo fora de casa para ganhar dinheiro. A lista dos problemas é enorme. Nós, da indústria do entretenimento, deveríamos conter nossos abusos, sim. Mas o governo também tem de dar duro para que a educação seja uma prioridade.

Veja – O senhor fala como um político. Pretende se candidatar a algum cargo?
Schwarzenegger – Só quando eu me cansar do cinema.

Veja – Quais são as chances de que isso venha a ocorrer?
Schwarzenegger – Não sei. Já aconteceu com o fisiculturismo. Eu estava no auge da minha carreira como atleta e, de repente, quis parar. As reviravoltas na minha vida não são planejadas.

Veja – Os críticos do sistema americano costumam dizer que Washington é uma extensão de Hollywood. Ambas seriam fábricas de ilusões.
Schwarzenegger – Bem, só o que posso dizer a respeito é que Hollywood e Washington sempre tiveram um caso de amor. Hollywood gosta do poder e da possibilidade de legitimação que a política oferece. Washington gosta da indústria do entretenimento pelo que ela representa e pelo dinheiro que gera.

Veja – Muitos astros reclamam do tratamento que a imprensa lhes dá. O senhor se incomoda com o que sai a seu respeito nos jornais e revistas?
Schwarzenegger – É óbvio que todos nós adoramos ler coisas boas sobre nós mesmos – e detestamos quando sai algo negativo. Por isso mesmo, seria a última pessoa a dizer que os jornalistas não prestam porque publicaram essa ou aquela notícia, ou porque disseram que meu filme é ruim. É preciso aceitar as críticas. Se você não gosta de calor, saia da cozinha. Por outro lado, há um tipo de jornalismo que vive de procurar e explorar o que há de pior na vida de gente famosa. Nesses casos, em que se publicam afirmações falaciosas e destrutivas, é preciso recorrer à Justiça ou exigir retratação. Por exemplo: um jornal disse que eu não havia me recuperado bem da cirurgia cardíaca a que fui submetido. Que mal conseguia andar depois da operação, imagine só. Mesmo sendo estampada numa publicação não lá muito conceituada, é o tipo de manchete que prejudica a minha carreira. Escrevi, então, ao editor do jornal, pedindo que ele desmentisse a nota.

Veja – E quanto às afirmações de que o senhor é um simpatizante do nazismo?
Schwarzenegger – É incrível: me acusam de ser nazista só porque nasci na Áustria. Sou muito sensível a respeito desse tema, inclusive porque vários de meus amigos são judeus. Evidentemente, não sou nazista. Desprezo tudo o que esse regime representou. Por seis vezes já processei publicações que afirmaram que eu era simpático ao nazismo – e em todas elas ganhei a causa.

Veja – O que o senhor pensa do líder ultradireitista Joerg Haider, cujo partido chegou ao poder na Áustria?
Schwarzenegger – É uma tristeza que a Áustria seja execrada internacionalmente por causa de um homem. Trabalha-se tanto para dar a um país uma boa reputação e, de uma hora para outra, surge um sujeito com um discurso estúpido e põe tudo a perder.

Veja – A cirurgia que o senhor sofreu em 1997 alterou de algum modo a sua maneira de ser? Schwarzenegger – Não, não modificou em nada. Não tive aquelas visões estranhas que os pacientes descrevem, de nuvens e luzes. Ou talvez seja mais certo dizer que, se as tive, não me lembro. Tudo o que fica na memória é a sensação de cair no sono e depois acordar com um sujeito debruçado sobre você dizendo: "Bem, agora vou puxar este tubo de dentro da sua garganta". Isso e o fato de que, na primeira semana de recuperação, a comida tem um sabor horrível.

Veja – O senhor não passou a dar mais valor à vida depois dessa experiência?
Schwarzenegger – Na verdade, acho que ninguém pensa no valor da própria vida o tempo todo, a não ser que digam que só lhe restam seis meses. No meu caso, logo que saí da cirurgia já estava me sentindo ótimo – e estava me sentindo ótimo antes de passar por ela também. Até que os médicos recomendassem a troca de uma válvula cardíaca, por causa de um defeito congênito, eu pensava que tinha apenas um sopro no coração. Daqui a vinte anos provavelmente terei de substituir essa válvula por outra – e sempre há aquela pequena possibilidade de não sair vivo da mesa de operação. O que me consola é saber que, se o pior acontecer, não vou sofrer. Simplesmente não irei acordar.

Veja – Em seu novo filme, The 6th Day, seu personagem descobre que foi clonado. Qual é a sua opinião a respeito de um tema tão controvertido quanto a clonagem de seres humanos? Schwarzenegger – Acho que a clonagem apresenta possibilidades maravilhosas. Imagine só, multiplicar aos milhares animais em via de extinção! Quanto à clonagem humana, é um assunto delicado. Quando a técnica estiver inteiramente dominada, o que deve ocorrer num futuro não muito longínquo, é preciso tomar cuidado para que não seja utilizada por psicopatas. Ao contrário do personagem que interpreto, contudo, não tenho objeções de cunho religioso à idéia de clonar seres humanos. O curioso é que, por saber que eu estava trabalhando num filme sobre clonagem, chegaram a me procurar para investir num experimento desses. Recusei, é claro.

Veja – O senhor recebe muitas ofertas desse tipo?
Schwarzenegger – Muitas. Já recebi propostas para entrar nos negócios mais malucos que se possam conceber. Acho que isso acontece porque sou conhecido como um sujeito que administra os próprios ganhos e gosta de faturar um dólar ou outro, ao contrário de outros atores, que entregam tudo a um agente financeiro e depois descobrem que o dinheiro sumiu. É engraçado: às vezes alguém vem se gabar de que, desde que contratou esse ou aquele investidor, está há cinco anos sem pagar impostos. "Claro", digo, "é porque ele roubou o seu dinheiro!" Adoro pagar impostos. Parto do pressuposto de que, se tenho de pagar mais, é porque ganhei mais.

Veja – O senhor tem fama de ser um bom comprador de obras de arte.
Schwarzenegger – Não me arrependo de nem um dólar que tenha gasto em arte ou em imóveis. Tenho um quadro que retrata Russell Means, famoso líder indígena americano, pelo qual paguei 28.000 dólares. Hoje, ele vale milhões. Arte é um investimento imbatível.
Veja – Que grandes artistas podem ser encontrados nas paredes de sua casa? Schwarzenegger – Não só da minha casa, mas também do meu escritório. Tenho pinturas de Andy Warhol e óleos e litografias de Marc Chagall e Claude Monet. Eram peças caras quando as comprei, mas hoje não têm preço. E imaginar que as pessoas achavam que eu era louco por gastar meu dinheiro com elas! Também tenho muitos quadros e esculturas de Anthony Quinn, o ator. Uma de minhas telas favoritas é a de uma mãe com seu filho, com que presenteei minha mulher quando nossa segunda filha nasceu. A cada filho que tivemos, dei a Maria uma obra com esse tema.

Veja – Há pouco tempo o senhor teve seu quarto filho. O que mais o encanta em ser pai? Schwarzenegger – Pessoas que gostam de negócios se entusiasmam quando vêem um dólar que investiram multiplicar-se. Pois bem, o cérebro de uma criança é o maior investimento que se pode fazer. Uma das coisas que mais me divertem é ver meu filho, de 6 anos, dizer coisas da maneira que eu as diria. Também gosto de contar à minha filha sobre a Áustria, para que ela possa fazer trabalhos de escola a respeito do lugar em que seu pai nasceu.

Veja – Apesar de viver há mais de trinta anos nos Estados Unidos, o senhor ainda se sente austríaco?
Schwarzenegger – Sim. A cultura e os costumes austríacos estão entranhados em mim.

Veja – O senhor educa seus filhos do modo austríaco ou do americano?
Schwarzenegger – Faço o possível para incutir neles um pouco da cultura do meu país. A disciplina em minha casa é austríaca e também algumas das comidas. Freqüentemente os levo em viagem à Áustria. Muitas vezes conversamos em alemão. Faço questão, ainda, de que eles aprendam a esquiar muito bem. Você sabia que, aos 2 anos, uma criança já é capaz de se equilibrar sobre um par de esquis?

Veja – O senhor é um pai severo?
Schwarzenegger – Há dois anos tento convencer minha filha a se livrar de uma urna com as cinzas de seu cavalo, que ela mantém na garagem de casa em homenagem ao animal de que tanto gostava. Se alguns anos atrás me dissessem que eu toleraria algo assim, daria gargalhadas.

Veja – Se fosse possível, com que ator do passado o senhor gostaria de contracenar? Schwarzenegger – Com John Wayne. Tive sorte em poder fazer filmes com muitos dos meus ídolos de juventude, como Kirk Douglas e Charlton Heston. Mas John Wayne é um herói para mim. Seria maravilhoso fazer um faroeste com ele.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

primeiro papo...



Hoje todo mundo tem Blog. Resolvi criar o meu para veicular minhas reportagens, e minhas histórias acumuladas na linha de frente da cobertura jornalística do mundo do cinema. Aqui vocês poderão ler, ou reler os papos que tive com grandes nomes da 7ª Arte, nesses meus mais de 20 anos de trincheira. Espero que curtam.