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In a career spanning over 30 years of experience in journalism, TV production, film and TV scripts, Wladimir Weltman has worked for some of the most important companies in the industry in the USA and Brazil. Numa carreira que se estende por mais de 30 anos de experiência em jornalismo, produção de tevê, roteiros de cinema e TV, e presença frente às câmeras Wladimir Weltman trabalhou em algumas das mais importantes empresas do ramo nos EUA e no Brasil.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Minha entrevista com Steven Spielberg - Páginas Amarelas da VEJA 25/02/98

Quero barulho
O diretor avisa que fará novos filmespolêmicos e faz o elogio do cinema independenteque floresce em Hollywood
Foto: Pablo Grosby
"Nesta altura da carreira posso me dar ao luxo de não me preocupar com boas bilheterias"

O diretor Steven Spielberg reinou nas duas últimas décadas como menino prodígio de Hollywood, até se tornar um adulto de 50 anos com um filme, quem diria, mal recebido pela crítica e visto com reservas pela sua fidelíssima platéia. Na sua infância na terra da fantasia, ganhou rios de dinheiro com filmes de estrondoso sucesso feitos para crianças de 8 a 80 anos de idade. Foi assim com Tubarão, ET, o Extraterrestre e Parque dos Dinossauros. Os dois últimos estão entre os três mais rentáveis da história, mas ser campeão de bilheteria não bastava para o diretor. Spielberg queria ser reconhecido como um cineasta sensível e humanista. Em 1993, finalmente, com A Lista de Schindler, em que recriou o horror do holocausto judeu na II Guerra, ele pela primeira vez foi premiado com o Oscar em categorias de prestígio: melhor filme e diretor.

Agora, em mais uma empreitada como cineasta maduro, Spielberg, que não é infalível, se deu mal. Seu filme mais recente, Amistad, é uma versão de A Lista de Schindler adaptada para a questão racial americana. Já em cartaz no Brasil, Amistad deixou de bater aqueles recordes de público nos Estados Unidos a que o diretor estava acostumado. Alcançou uma bilheteria de 40 milhões de dólares pouco para quem costuma fazer muito mais do que isso. O filme foi malhado pela crítica e ficou fora da corrida pelos Oscar mais importantes. Concorre apenas em duas categorias secundárias, fotografia e trilha sonora de drama. Para piorar, Titanic, do diretor James Cameron, representante do cinema-espetáculo no qual Spielberg é considerado o maior craque, está prestes a se consagrar no Oscar teve catorze indicações e pode atingir uma marca recorde de arrecadação. Diante do surgimento de um novo rival, James Cameron, Spielberg faz esta ponderação: "Haverá mais Titanics no cinema até que um deles afunde nas bilheterias", comentou em seu escritório, em Los Angeles, onde deu a seguinte entrevista a VEJA:

Veja - Por que a griffe Steven Spielberg não foi suficiente para garantir o sucesso de seu último filme, Amistad, em que o senhor recupera um episódio histórico para tocar na questão racial americana?
Spielberg - Tenho por norma não procurar explicações para os meus sucessos ou fracassos. Existem tantos críticos de cinema no mundo, talvez mais do que o recomendável, que seria supérfluo da minha parte fazê-lo. Meu trabalho é apenas dirigir e lançar filmes.

Veja - Mas não é frustrante que uma produção esmerada, com boa história e elenco de primeira, não estoure nas bilheterias?
Spielberg - Nesta altura da minha carreira, posso me dar ao luxo de não me preocupar tanto assim com boas bilheterias. Hoje, estou mais interessado em transmitir boas mensagens, suscitar discussões entre as pessoas que assistem a meus filmes, enfim, fazer barulho. Desse ponto de vista, Amistad pode ser considerado um sucesso. Além disso, não se pode ignorar a existência da TV. Acho que ele terá um grande público quando passar da telona para a telinha, como foi o caso de A Lista de Schindler, visto por mais de 70 milhões de telespectadores ao redor do mundo. Se 40 milhões assistirem a Amistad na televisão, já terá valido a pena fazer o filme.

Veja - Alguns críticos disseram que Amistad é uma espécie de A Lista de Schindler ruim.
Spielberg - Sem querer entrar em polêmicas vazias, considero essa visão um tanto obtusa. Grosso modo, em determinado momento de sua história negros e judeus foram escravizados por um grupo racial que se julgava superior e, depois de sofrimentos indizíveis, conseguiram libertar-se. Ponto final. Essas são as únicas semelhanças entre A Lista de Schindler e Amistad. No mais, os eventos abordados nesses filmes são muito diferentes.

Veja - O senhor, então, não quis comparar a escravidão negra ao holocausto judeu?
Spielberg - Evidentemente, não. A escravidão já estava presente nos primórdios da humanidade e, em maior ou menor grau, abertamente ou de forma velada, ainda sobrevive em diversas sociedades. Ao longo de 4.000 anos, é triste constatar, parece que aprendemos a conviver com esse pecado, desenvolvendo uma certa tolerância em relação a ele. Isso não quer dizer, é claro, que a escravidão seja justificável ou aceitável trata-se de algo hediondo, a ser combatido vigorosamente pelos cidadãos, governos e entidades de defesa dos direitos humanos. Já o holocausto judeu durante o regime nazista foi uma brutalidade que não encontra paralelo na história humana, especialmente pelos métodos de extermínio em escala industrial empregados pelos carrascos de Hitler. Num período de apenas dez anos uma etnia inteira foi praticamente dizimada na Europa, o berço da civilização ocidental. Uma barbárie.

Veja - O que esperar de Hollywood no próximo século?
Spielberg - Uma reprise do que vem acontecendo neste século. Em certos momentos, teremos uma enxurrada de filmes sobre navios que vão a pique, arranha-céus que pegam fogo e invasões de extraterrestres. Mas bastará que um desses Titanics do futuro afunde nas bilheterias para que os estúdios cinematográficos apertem os cintos e passem a bancar apenas filmes de baixo custo, mais intimistas. Essa é a verdadeira história de Hollywood.

Veja - O senhor é pessimista em relação ao futuro do cinema?
Spielberg - Pelo contrário. Acho que, apesar de todas as limitações impostas pela indústria, há muito espaço para a criatividade e para o surgimento de novos talentos. Prova disso são os chamados diretores independentes americanos, que atuam fora do esquema dos grandes estúdios, como Paul Thomas Anderson, diretor de Boogie Nights. Eles são brilhantes. Estamos passando, aqui nos Estados Unidos, por uma explosão de talentos comparável à da nouvelle vague francesa.

Veja - O senhor já pensou em produzir filmes desses diretores?
Spielberg - No momento, minha produtora, DreamWorks, está produzindo três filmes de cineastas dessa geração. É uma maravilha de todos os pontos de vista: custam pouco e realmente revelam a alma e a consciência do diretor, são um retrato dele na tela, ao contrário das produções monumentais, nas quais o cineasta não pode mostrar muita coisa além de seu talento técnico.

Veja - O senhor raramente convida atores de cachê astronômico para trabalhar em seus filmes. É uma maneira de enfrentar o que o diretor Francis Ford Coppola chamou recentemente de "a ditadura dos atores em Hollywood"?
Spielberg - Acabo de trabalhar com Tom Hanks, que já chegou a ganhar 20 milhões de dólares de cachê, mas não cobrou nada para trabalhar comigo. Ele terá uma participação na bilheteria, assim como eu e outros envolvidos na produção do filme. Quando contato um astro para fazer um filme, tento convencê-lo de que não faz sentido receber uma quantia exorbitante com antecedência, porque se trata de um empreendimento de risco, não se sabe se dará lucro ou prejuízo. Digo que, se a coisa emplacar, ganharemos dinheiro de qualquer maneira, só que depois. O custo dos filmes em Hollywood, atualmente, está ficando proibitivo. Espero que esse tipo de parceria com Hanks acabe rendendo frutos e transformando a maneira de agir dos atores de primeira linha. Eles deveriam ser os primeiros a mudar de atitude com relação aos cachês, já que têm tanto dinheiro no banco.

Veja - Há alguns anos, o senhor disse que o final feliz era uma obrigação do cinema, principalmente em tempos de recessão. Agora que a economia americana vai bem, isso significa que há lugar para finais infelizes?
Spielberg - Não me lembro de ter dito isso. O fato é que colocam muitas frases na minha boca sem que as tenha dito. Seria ingênuo da minha parte acreditar que o cinema tenha de andar a reboque da conjuntura sócio-econômica. Acho que os filmes têm vida própria, existem independentemente do mundo em que foram criados. São como realidades paralelas.

Veja - O surgimento da televisão digital, com altíssimo grau de resolução de imagem e som, representa uma ameaça ao cinema?
Spielberg - Já perdi a conta de quantas vezes foi decretada a morte do cinema nas últimas duas décadas, desde que começaram a entrar no mercado os extraordinários avanços tecnológicos obtidos no campo da imagem. Mas o que se verificou foi exatamente o contrário o cinema soube incorporar essas novidades e está mais vivo do que nunca. Sair para pegar um cineminha continua sendo um dos melhores divertimentos a que pode almejar o homem moderno seja nos Estados Unidos, no Brasil ou no Turquestão. As pessoas vão ao cinema depois do jantar e do almoço espero que um dia aumentem seu apetite por filmes a ponto de ir depois do café da manhã.

Veja - O senhor é a favor de um maior controle sobre a programação veiculada pelas emissoras de televisão?
Spielberg - Não sou a favor da censura, mas gostaria de controlar o que meus filhos assistem na TV, ter a palavra final sobre o assunto em minha própria casa. Assim como todas as crianças, meus sete filhos estão expostos desnecessariamente a um excesso de violência e sensacionalismo. Nesse sentido, acho que serei um dos primeiros a instalar nos aparelhos de minha casa o Violence Chip, aquele dispositivo recém-inventado que permite aos pais programar a televisão para não receber programas considerados impróprios.

Veja - Há muitas cenas de violência na série Indiana Jones, dirigida pelo senhor.
Spielberg - Sim, mas tive o cuidado de não incluir em nenhum dos três filmes cenas de violência gratuita. O fato de os jovens, em sua maioria, gostarem de ver pancadaria e sangue espirrando na tela aumenta a responsabilidade dos que trabalham na indústria do entretenimento é comum que se lance mão da violência apenas para rechear filmes e programas com roteiros e conteúdos pobres.

Veja - O senhor acha que as ligações perigosas entre a estagiária Monica Lewinsky e o presidente Bill Clinton rendem um bom filme de aventura?
Spielberg - Não acho que a vida pessoal do presidente dos Estados Unidos seja da nossa conta. Bill Clinton, não importa o que faça na sua vida amorosa, tem o meu voto porque vem desempenhando bem a função para a qual foi eleito, tem feito um trabalho convincente como líder mundial. Fiquei espantado com a rapidez com que jornais, revistas e a televisão julgaram o caso. Em toda a minha vida, nunca vi uma campanha difamatória tão fulminante e bem orquestrada, e espero não ver novamente. Uma vergonha.

Veja - Cinema é uma atividade com importância social?
Spielberg - É um assunto complexo. Dependendo do contexto, um diretor pode ou não se engajar em determinadas causas, sempre tendo presente que não é isso que o tornará um melhor profissional. Já se rodaram muitos filmes ruins em prol de objetivos nobilíssimos. Acho que, no fundo, o papel social a ser desempenhado pelas pessoas tem menos a ver com as profissões que elas exercem e mais com motivações de foro pessoal. Da minha parte, faço o que posso. Uma das minhas grandes preocupações no momento é recolher e organizar testemunhos de sobreviventes do holocausto. Nos últimos quatro anos recolhemos mais de 40.000 depoimentos. Minha meta é chegar a 60.000 daqui a um ano e meio. Se não me falha a memória, só no Brasil coletamos cerca de 650 relatos, através do escritório que mantemos em Buenos Aires. Também me preocupo com uma fundação voltada para crianças doentes, que não podem deixar os hospitais e voltar para casa. Essa fundação fornece computadores às alas infantis dessas instituições, para que as crianças possam se comunicar com outras que também passam por problemas semelhantes. Tem sido um sucesso.

Veja - O senhor tem sete filhos, dois deles adotados. Os pais naturais dessas crianças são viciados em crack...
Spielberg - Não gosto de falar sobre assuntos familiares em entrevistas. O que posso dizer é que a adoção trouxe muita felicidade à minha vida. Quando meus filhos adotivos crescerem e quiserem saber a respeito de suas origens, de seus pais naturais, eu e minha mulher contaremos toda a verdade por mais difícil que seja para nós, é um direito deles.

Veja - O senhor assistiu a O que É Isso Companheiro?, do diretor brasileiro Bruno Barreto, marido de sua ex-mulher, a atriz Amy Irving?
Spielberg - Bruno não é apenas marido de minha ex-mulher, mas também meu amigo. Amei o seu novo filme, que me revelou o caso do seqüestro do embaixador americano no Brasil, sobre o qual nada sabia. O que É Isso Companheiro? é emocionante e tem boas chances de levar o Oscar. Sem dúvida, é o melhor filme de Bruno.

video - entrevista com raptor - Jurassic Park 3

Minha entrevista com "Mr. Músculos" para as Páginas Amarelas da VEJA - 24/05/2000

Aos 52 anos e operado do coração, o maior ator de Hollywood (em envergadura) não pensa em parar de fazer filmes de ação.
"Não faria um filme de arte. Isso poderia ser interpretado como sinal de decadência, de que topei trabalhar por pouco dinheiro".

Três anos atrás, Arnold Schwarzenegger foi submetido a uma cirurgia para trocar uma válvula defeituosa do coração. Muito se especulou se ele poderia voltar a estrelar aquelas fitas de aventura que fizeram dele um dos astros mais bem pagos de Hollywood, com cachês acima dos 20 milhões de dólares. Schwarzenegger, no entanto, provou que uma vida inteira de culto à forma física rende bons dividendos. Há poucos meses, o ex-mister Universo protagonizou um detetive que luta contra o demônio em Fim dos Dias. No momento, está rodando The 6th Day, sobre um sujeito que é clonado ilegalmente e tem de fugir dos malfeitores que desejam matá-lo. Em suma, ele não quer deixar de ser herói de ação. "Ainda sou capaz de correr como na juventude", orgulha-se. Há mais de trinta anos radicado nos Estados Unidos, o astro também continua pensando com carinho na possibilidade de se candidatar a um cargo político. Detalhe: republicano convicto, ele é casado com uma representante do clã democrata dos Kennedy, a jornalista Maria Shriver, com quem tem quatro filhos.

Se há algo que irrita o astro nascido na pequena cidade austríaca de Graz são as freqüentes insinuações de que ele é simpatizante do nazismo. Schwarzenegger refuta peremptoriamente esse tipo de acusação e processa os incautos que porventura a façam. Já ganhou vários desses processos. Mas confessa que gosta de educar os filhos com a disciplina típica de seu país. Mais: faz questão de que, desde a mais tenra infância, eles se habituem a esquiar na neve.
Schwarzenegger falou a VEJA no set de filmagens de The 6th Day, em Vancouver, no Canadá.

Veja – Aos 52 anos, ainda é possível interpretar bem heróis de filmes de ação? Não estaria na hora de passar o bastão a atores jovens?
Schwarzenegger – Antes de mais nada, acho que não cabe a mim passar o bastão adiante. É o público que deve decidir se ainda sirvo ou não para fazer esses filmes. Até agora não ouvi queixas. Na verdade, sinto-me tão ativo quanto na juventude.
Exercito-me duas vezes por dia. Sou capaz de correr na mesma velocidade de antes e, se preciso, tenho energia para ficar acordado a noite inteira ou para saltar de pára-quedas.

Veja – Como o senhor vê o público desses filmes?
Schwarzenegger – Acho que, na década de 80, a demanda pelo gênero refletiu uma grande mudança ocorrida na sociedade. A emancipação feminina fez com que os homens se sentissem alijados do lugar que ocupavam. Nesse contexto sócio-psicológico, assistir a filmes de ação foi um dos modos que eles encontraram para viver a fantasia do macho forte e controlador. Nos últimos anos, porém, a situação mudou. Como os homens perceberam que nada lhes foi tirado, e sim acrescentado, os filmes de ação passaram a contar com heróis mais sensíveis, menos descerebrados. Já não há mais necessidade de personagens que encarnem tão fielmente o estereótipo machista. Enfim, havia um vácuo e nós o preenchíamos. Assim como acontece na política, é preciso sempre caminhar junto com o público.

Veja – O senhor faria um filme de arte?
Schwarzenegger – Acho que não. Isso poderia ser interpretado como sinal de decadência, de que topei trabalhar por pouco dinheiro porque não tinha proposta melhor.

Veja – Há um debate em curso nos Estados Unidos sobre a responsabilidade do cinema na violência social. O que pensa a respeito?
Schwarzenegger – Quando há episódios horríveis, como o de jovens que assassinam outros nas escolas, a primeira providência dos políticos americanos é pôr a culpa em Hollywood. Isso é estúpido, porque sugere que alguém sabe por que essas tragédias acontecem. Só que ninguém tem essa resposta. É preciso pensar em tudo o que está errado antes de sair por aí condenando o cinema. Os pais têm dificuldade de transmitir bons valores a seus filhos. Os políticos mostram incompetência para criar programas que mantenham as crianças ocupadas e criem um ambiente saudável nas escolas. Vendem-se armas indiscriminadamente. Os pais precisam ficar muito tempo fora de casa para ganhar dinheiro. A lista dos problemas é enorme. Nós, da indústria do entretenimento, deveríamos conter nossos abusos, sim. Mas o governo também tem de dar duro para que a educação seja uma prioridade.

Veja – O senhor fala como um político. Pretende se candidatar a algum cargo?
Schwarzenegger – Só quando eu me cansar do cinema.

Veja – Quais são as chances de que isso venha a ocorrer?
Schwarzenegger – Não sei. Já aconteceu com o fisiculturismo. Eu estava no auge da minha carreira como atleta e, de repente, quis parar. As reviravoltas na minha vida não são planejadas.

Veja – Os críticos do sistema americano costumam dizer que Washington é uma extensão de Hollywood. Ambas seriam fábricas de ilusões.
Schwarzenegger – Bem, só o que posso dizer a respeito é que Hollywood e Washington sempre tiveram um caso de amor. Hollywood gosta do poder e da possibilidade de legitimação que a política oferece. Washington gosta da indústria do entretenimento pelo que ela representa e pelo dinheiro que gera.

Veja – Muitos astros reclamam do tratamento que a imprensa lhes dá. O senhor se incomoda com o que sai a seu respeito nos jornais e revistas?
Schwarzenegger – É óbvio que todos nós adoramos ler coisas boas sobre nós mesmos – e detestamos quando sai algo negativo. Por isso mesmo, seria a última pessoa a dizer que os jornalistas não prestam porque publicaram essa ou aquela notícia, ou porque disseram que meu filme é ruim. É preciso aceitar as críticas. Se você não gosta de calor, saia da cozinha. Por outro lado, há um tipo de jornalismo que vive de procurar e explorar o que há de pior na vida de gente famosa. Nesses casos, em que se publicam afirmações falaciosas e destrutivas, é preciso recorrer à Justiça ou exigir retratação. Por exemplo: um jornal disse que eu não havia me recuperado bem da cirurgia cardíaca a que fui submetido. Que mal conseguia andar depois da operação, imagine só. Mesmo sendo estampada numa publicação não lá muito conceituada, é o tipo de manchete que prejudica a minha carreira. Escrevi, então, ao editor do jornal, pedindo que ele desmentisse a nota.

Veja – E quanto às afirmações de que o senhor é um simpatizante do nazismo?
Schwarzenegger – É incrível: me acusam de ser nazista só porque nasci na Áustria. Sou muito sensível a respeito desse tema, inclusive porque vários de meus amigos são judeus. Evidentemente, não sou nazista. Desprezo tudo o que esse regime representou. Por seis vezes já processei publicações que afirmaram que eu era simpático ao nazismo – e em todas elas ganhei a causa.

Veja – O que o senhor pensa do líder ultradireitista Joerg Haider, cujo partido chegou ao poder na Áustria?
Schwarzenegger – É uma tristeza que a Áustria seja execrada internacionalmente por causa de um homem. Trabalha-se tanto para dar a um país uma boa reputação e, de uma hora para outra, surge um sujeito com um discurso estúpido e põe tudo a perder.

Veja – A cirurgia que o senhor sofreu em 1997 alterou de algum modo a sua maneira de ser? Schwarzenegger – Não, não modificou em nada. Não tive aquelas visões estranhas que os pacientes descrevem, de nuvens e luzes. Ou talvez seja mais certo dizer que, se as tive, não me lembro. Tudo o que fica na memória é a sensação de cair no sono e depois acordar com um sujeito debruçado sobre você dizendo: "Bem, agora vou puxar este tubo de dentro da sua garganta". Isso e o fato de que, na primeira semana de recuperação, a comida tem um sabor horrível.

Veja – O senhor não passou a dar mais valor à vida depois dessa experiência?
Schwarzenegger – Na verdade, acho que ninguém pensa no valor da própria vida o tempo todo, a não ser que digam que só lhe restam seis meses. No meu caso, logo que saí da cirurgia já estava me sentindo ótimo – e estava me sentindo ótimo antes de passar por ela também. Até que os médicos recomendassem a troca de uma válvula cardíaca, por causa de um defeito congênito, eu pensava que tinha apenas um sopro no coração. Daqui a vinte anos provavelmente terei de substituir essa válvula por outra – e sempre há aquela pequena possibilidade de não sair vivo da mesa de operação. O que me consola é saber que, se o pior acontecer, não vou sofrer. Simplesmente não irei acordar.

Veja – Em seu novo filme, The 6th Day, seu personagem descobre que foi clonado. Qual é a sua opinião a respeito de um tema tão controvertido quanto a clonagem de seres humanos? Schwarzenegger – Acho que a clonagem apresenta possibilidades maravilhosas. Imagine só, multiplicar aos milhares animais em via de extinção! Quanto à clonagem humana, é um assunto delicado. Quando a técnica estiver inteiramente dominada, o que deve ocorrer num futuro não muito longínquo, é preciso tomar cuidado para que não seja utilizada por psicopatas. Ao contrário do personagem que interpreto, contudo, não tenho objeções de cunho religioso à idéia de clonar seres humanos. O curioso é que, por saber que eu estava trabalhando num filme sobre clonagem, chegaram a me procurar para investir num experimento desses. Recusei, é claro.

Veja – O senhor recebe muitas ofertas desse tipo?
Schwarzenegger – Muitas. Já recebi propostas para entrar nos negócios mais malucos que se possam conceber. Acho que isso acontece porque sou conhecido como um sujeito que administra os próprios ganhos e gosta de faturar um dólar ou outro, ao contrário de outros atores, que entregam tudo a um agente financeiro e depois descobrem que o dinheiro sumiu. É engraçado: às vezes alguém vem se gabar de que, desde que contratou esse ou aquele investidor, está há cinco anos sem pagar impostos. "Claro", digo, "é porque ele roubou o seu dinheiro!" Adoro pagar impostos. Parto do pressuposto de que, se tenho de pagar mais, é porque ganhei mais.

Veja – O senhor tem fama de ser um bom comprador de obras de arte.
Schwarzenegger – Não me arrependo de nem um dólar que tenha gasto em arte ou em imóveis. Tenho um quadro que retrata Russell Means, famoso líder indígena americano, pelo qual paguei 28.000 dólares. Hoje, ele vale milhões. Arte é um investimento imbatível.
Veja – Que grandes artistas podem ser encontrados nas paredes de sua casa? Schwarzenegger – Não só da minha casa, mas também do meu escritório. Tenho pinturas de Andy Warhol e óleos e litografias de Marc Chagall e Claude Monet. Eram peças caras quando as comprei, mas hoje não têm preço. E imaginar que as pessoas achavam que eu era louco por gastar meu dinheiro com elas! Também tenho muitos quadros e esculturas de Anthony Quinn, o ator. Uma de minhas telas favoritas é a de uma mãe com seu filho, com que presenteei minha mulher quando nossa segunda filha nasceu. A cada filho que tivemos, dei a Maria uma obra com esse tema.

Veja – Há pouco tempo o senhor teve seu quarto filho. O que mais o encanta em ser pai? Schwarzenegger – Pessoas que gostam de negócios se entusiasmam quando vêem um dólar que investiram multiplicar-se. Pois bem, o cérebro de uma criança é o maior investimento que se pode fazer. Uma das coisas que mais me divertem é ver meu filho, de 6 anos, dizer coisas da maneira que eu as diria. Também gosto de contar à minha filha sobre a Áustria, para que ela possa fazer trabalhos de escola a respeito do lugar em que seu pai nasceu.

Veja – Apesar de viver há mais de trinta anos nos Estados Unidos, o senhor ainda se sente austríaco?
Schwarzenegger – Sim. A cultura e os costumes austríacos estão entranhados em mim.

Veja – O senhor educa seus filhos do modo austríaco ou do americano?
Schwarzenegger – Faço o possível para incutir neles um pouco da cultura do meu país. A disciplina em minha casa é austríaca e também algumas das comidas. Freqüentemente os levo em viagem à Áustria. Muitas vezes conversamos em alemão. Faço questão, ainda, de que eles aprendam a esquiar muito bem. Você sabia que, aos 2 anos, uma criança já é capaz de se equilibrar sobre um par de esquis?

Veja – O senhor é um pai severo?
Schwarzenegger – Há dois anos tento convencer minha filha a se livrar de uma urna com as cinzas de seu cavalo, que ela mantém na garagem de casa em homenagem ao animal de que tanto gostava. Se alguns anos atrás me dissessem que eu toleraria algo assim, daria gargalhadas.

Veja – Se fosse possível, com que ator do passado o senhor gostaria de contracenar? Schwarzenegger – Com John Wayne. Tive sorte em poder fazer filmes com muitos dos meus ídolos de juventude, como Kirk Douglas e Charlton Heston. Mas John Wayne é um herói para mim. Seria maravilhoso fazer um faroeste com ele.