Restava nesta série de textos, em que homenageei meus mentores da TV, falar daquele que além de me inspirar a trabalhar nesse veiculo maravilhoso, foi e continua sendo minha bussola, meu guia, meu professor e meu amigo. Estou falando de meu pai, Moysés Weltman. Ser filho de um homem de sucesso e fama, como ele era, não é fácil pra ninguém. Ao longo da vida esbarrei em outros filhos de pais brilhantes e sei da luta que eles tiveram que travar para se firmar sobre seus próprios pés.
Para mim
houve momentos difíceis, mas não por culpa dele. Como qualquer pessoa, tive que
descobrir quem eu era, e qual era a minha voz como artista e profissional,
atuando no mesmo meio em que ele trabalhava e brilhava. Acho que na medida de
minha capacidade, consegui fazer isso. E o fiz em tempo de poder usufruir da
companhia de meu pai como a de uma bom amigo.
Apesar de
viver para o trabalho, seu Moysés não era um pai ausente. Apesar de ser famoso
e importante a vista de muita gente, era uma pessoa simples e extremamente
acessível. Papai era um ser humano muito doce e compartia com qualquer um a sua
sabedoria, conhecimento e inteligência. Ao longo de minha vida pude desfrutar
desse tesouro que Deus me deu.
Quanto ao
seu amor pela televisão (algo que obviamente me contagiou), está registrado nos
pontos altos de sua carreira.
Vejamos: na
década de 50 papai foi um dos primeiros roteiristas que colaborou ativamente
com a produção televisiva da TV Tupi recém inaugurada. Escreveu peças infantis
para o TEATRINHO TROL de Fabio Sabag, adaptou peças importantes para O GRANDE
TEATRO TUPI e foi o autor do primeiro seriado médico da TV brasileira – O JOVEM
DR. RICARDO – com Cyl Farney e Teresa Rachel nos papeis principais.
No fim dos
anos 50, ele já estava envolvido no projeto da TV Globo. Em 1959 foi aos EUA
pesquisar os métodos de produção americanos. Na volta montou uma das primeiras
produtoras de TV independentes do Brasil. Com o suporte financeiro de clientes
de sua agencia de publicidade, a MW Propaganda, produziu o seriado infanto-juvenil
OS TRÊS MOSQUETEIROS, gravado em vídeo-tape (novidade na época) na TV
Continental, Canal 9 do Rio; atores como Sadi Cabral, José Miziára, Maurício do
Valle e Francisco Cuoco no elenco. Foi lá também que ele produziu uma das
primeiras Sitcom da TV, O MARIDO DA ESTRELA, com Theresa Amayo, Antonio Patinho
e Claudio Correa e Castro; papai e seu amigo Mario Lago escreviam os roteiros.
Em 1965 fez
parte do grupo fundador da TV Globo e foi seu primeiro novelista com novelas
como ROSINHA DO SOBRADO, PADRE TIÃO e O REI DOS CIGANOS.
No anos 70
ele criou a mais importante revista semanal sobre televisão, a AMIGA. Sucesso
editorial que se tornou mania nacional. Um publicação que chegou a ter mais de
100 mil copias de tiragem e que era amada igualmente pelo público, assim como
pela classe artística.
No fim da
década de 70 ele deixou a AMIGA e se envolveu no lançamento da TVS, que
resultou na rede SBT. O próprio Silvio Santos, mais de uma vez, afirmou
publicamente que a ideia de ter a sua própria televisão partiu de uma sugestão
de papai. E foi em parte, graças a seus esforços, que em pouco tempo a rede de
TV do Silvio alcançou o segundo lugar de audiência junto ao público nacional.
Moysés só
deixou o SBT para embarcar noutro sonho televisivo chamado TV Manchete. Em 1983,
quando a emissora tinha data marcada para entrar no ar, mas não conseguia se
organizar pra enfrentar o desafio, papai abandonou a segurança do SBT e assumiu
o desafio da televisão de Adolfo Bloch. Foi Moysés quem conseguiu colocar a TV
Manchete no ar, com seu jornal de duas horas de duração e demais atrações. E,
sob seu comando, a TV Manchete realizou a cobertura do Carnaval de 1984,
deixando a Globo (que abrira mão do evento), pela primeira vez, preocupada com
a concorrência.
Enquanto
ele esteve no comando da recém criada emissora, está obteve sucessos marcantes
na luta pela audiência. Infelizmente no final de 1985, um segundo e fatal
infarte fez com que seu Moysés saísse de cena para sempre. Mas ele deixou sua
marca nas três das mais importantes redes de televisão do Brasil.
Papai
realizou muito mais do que isso na sua curta e prolifica carreira. Aqui apenas
comentei de forma superficial o que fez de mais importante na TV brasileira. E,
a maior riqueza que deixou, foi nos corações e mentes dos profissionais com
quem trabalhou ao longo desses anos.
Nunca me
esquecerei do dia em que no set do programa ZORRA TOTAL, onde eu era um dos
roteiristas, o Chico Anysio me acenou para que me aproximasse. Seu filho Nizo
Neto, meu colega de redação, me identificou como sendo filho do Moysés. Senti
que o Chico estava genuinamente feliz de me conhecer e se lembrar de meu pai.
Foi muito gratificante ouvir o Chico falando com saudade e apreço do meu velho.
O que poderia ser uma acontecimento isolado, na verdade tem sido algo
recorrente. Ainda hoje, quando encontro alguém do meio que descobre que sou
filho de Moysés Weltman, a reação é sempre muito emocionante. Todos os que o
conheceram, tem por ele o maior carinho e admiração. Num meio em que as vezes
existem ciumeiras, brigas e maledicência, esse tipo de reação é extremamente
valiosa. Diz tudo sobre a pessoa e o profissional que ele foi. Esse é o ouro
que herdei do meu pai.
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